domingo, 9 de maio de 2021

PERFIS FEMININOS DA LITERATURA BRASILEIRA.

No mundo fictício da nossa literatura, a mulher apresenta-se sempre multifacetada, versátil e controvérsia. Assim, a identidade feminina foi sendo construída e desconstruída nas teias dos mais variados romances, perpetuando ou destruindo preconceitos e estereótipos, promovendo então, uma leitura clara da cultura brasileira, seja através do viés social, familiar ou religioso, os quais podemos analisar, neste trabalho, através dos olhares masculinos de José de Alencar e de Machado de Assis. Percebe-se uma estabilização do imaginário que hierarquizou os valores masculinos e inscreveu às mulheres a resignação e a passividade diante da opressão social e da familiar, de estruturas profundamente patriarcais, e em outros momentos, criou um perfil feminino com caracteres baseados na coragem, na força, na inteligência, na astúcia, e na dissimulação, entre outros caracteres intrigantes, retratando assim, uma mulher prática, com personalidade forte e marcante. Muitos autores escreveram sobre as mulheres e para as mulheres. Cada autor por meio de seus personagens tentou traçar um perfil de mulher enfatizando enfoques diferentes. Criaram donzelas, cortesãs, mulheres urbanas republicanas; orgulhosas ou tímidas, calculistas ou levianas, singelas ou complexas, entre tantas outras. Da obra de Aluízio Azevedo - O Cortiço Rita Baiana é um dos personagens mais notáveis da literatura brasileira. Filha do realismo naturalista, é escrita com uma riqueza de detalhes visuais e sensoriais incríveis. Forte, apaixonada e politicamente incorreta, é absolutamente impossível não adorá-la. Sedutora e consciente de seus encantos, é maliciosa e faminta de vida, um diabo de saias. É sem dúvidas, a alma de O Cortiço, de Aluízio de Azevedo, embora não seja a protagonista. Ela não aparece desde o começo e nem está presente no fim, mas rouba a cena em sua aparição fulminante. Escrita em 1890, é uma mulher a frente de seu tempo. Ama a quem lhe aprouver, da forma que melhor lhe parecer. É deliciosamente livre e despida de amarras e preconceitos, é como a maioria de nós queria ser. É mulata decidida e generosa que enfrenta a vida de peito aberto, disposta a sofrer e gozar com a mesma intensidade. Fiel aos seus gostos e às suas paixões, a elas se entrega por inteiro. Da obra de Graciliano Ramos - Vidas secas. Sinhá Vitória, uma retirante que cuidava dos filhos, uma mulher forte, segura as rédeas na hora de partir e na hora de ficar, é aquela que indica com um simples gesto o caminho por onde a família deveria seguir. Mesmo com toda a dor e toda a miséria, ainda possui um imaginário povoado de sonhos, imagens, fantasias. Da obra de Guimarães Rosa - A Escrava Isaura. Isaura, a heroína escrava, branca, pura, virginal, possui um caráter nobre e demonstra “conhecer o seu lugar”: do princípio ao fim, suporta conformada a perseguição de Leôncio, as propostas de Henrique, as desconfianças de Malvina, sem jamais se revoltar. Permanece emocionalmente escrava, mesmo tendo sido educada como uma dama da sociedade. Tem escrúpulos de passar por branca livre, acha-se indigna do amor de Álvaro e termina como a própria imagem da “virtude recompensada”. José de Alencar cria sob a optica de pessoa bem nascida, com profundas raízes na aristocracia, portanto ele se dirigiu às mulheres, seguindo a ideologia patriarcal oitocentista, que diferenciava sua conduta diferente da dos homens a fim de enaltecer as qualidades femininas. O autor escrevia sobre diversos temas, levantando um panorama social e histórico do Brasil de maneira magistral, sempre abordou temas polêmicos e que levassem à reflexão, indo muito além de sua época, tornando-se sempre atual nos assuntos do cotidiano. Da obra de José de Alencar - Lucíola Lúcia tinha como característica principal a contradição. Coexistem nela duas pessoas: Maria da Glória - a menina inocente, ingênua, digna, simples e um verdadeiro anjo; Lúcia - a cortesã depravada, excêntrica, rejeita o amor e é um verdadeiro demônio. Seus traços físicos: cabelos e olhos pretos, a pele partida. Uma dualidade de caráter, ora anjo, um ideal de beleza, romântica; ora demônio, uma cortesã. Em "Lucíola" se encontra sutileza de vidas a um fino entendedor da sensibilidade feminina. Da obra de José de Alencar - Diva A personagem central do romance de José de Alencar, Emília, a jovem mimada de família de classe alta, filha de um rico capitalista do Rio de Janeiro. Vive uma busca incansável por um marido mais interessado em amor do que em dinheiro. Da obra de José de Alencar - Senhora Aurélia Camargo é idealizada como uma rainha, como uma heroína romântica, pelo narrador. A protagonista do romance, uma jovem mulher dividida entre o amor e o ódio, o desejo e o desprezo pelo homem que ama. Moça pobre. É decente e apaixonada por Fernando Seixas. A decepção amorosa transforma-a numa mulher vingativa e fria, mas que não consegue disfarçar seu verdadeiro sentimento por Seixas. Seu comportamento é típico de uma esquizofrênica, já que se vê dividida entre sentimentos contraditórios até o final do romance. O amor parece ser sua salvação, redimindo-a de perder o homem que ama por causa de seu orgulho. De personalidade forte, carregada de sentimentalismo romântico. Daí sua contradição, sua personalidade marcada por extremos psíquicos: dá maior valor aos sentimentos, mas vale-se do dinheiro para atingir seu objetivo de obter o grande amor de sua vida, Fernando Seixas.

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