segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Entenda a lesão de Anderson Silva por Aurifran Barroso Fisioterapeuta - 158332-F (CREFITO-6) Especialista em Biomedicina do Exercício e do Esporte - UFC

Desde muito tempo o homem tem demonstrado fascínio e curiosidade pelo MOVIMENTO. Cito, por exemplo, o cientista grego Aristarco, que propôs que a Terra realizaria 2 (dois) movimentos: rotação e translação (coincidência com Artrocinemática - movimento dos ossos dentro das articulações e Osteocinemática - movimento do eixo longitudinal dos ossos no espaço, respectivamente???), e por isso, foi acusado, na época, de impiedade. O cientista inglês Isaac Newton também contribuiu com a ciência quando descreveu a Lei da Gravitação Universal (muitos acreditam que ele começou a pensar nesse fenômeno depois que uma maçã caiu sobre sua cabeça), utilizando para tal os estudos de Kepler e as três leis (que receberam seu nome) que fundamentam a mecânica clássica.

Até aqui está parecendo uma aula de física com toques de história, o que para muitos pode chegar a dar sono! [risos]. Mas quando o movimento é relacionado ao corpo humano e para explicá-lo usam-se os conceitos da mecânica, parece ser mais interessante para alguns (eu me incluo nesse grupo). A esta área de estudo dá-se o nome de BIOMECÂNICA!

Na madrugada de hoje (29/12/2013) o brasileiro Anderson Silva (Spider) entrou no octógono do UFC (Ultimate Fighting Championship) pela edição 168 para tentar, em uma revanche, recuperar o cinturão dos pesos-médios que estava com o norte-americano Chris Weidman. De repente, no 2º round, Anderson desfere um chute baixo que é defendido pelo adversário, trazendo para o brasileiro uma fratura dos 2 (dois) ossos da perna esquerda (tíbia e fíbula).

Sob o enfoque biomecânico, como explicar o fato?

O chute de Anderson caracterizou-se como um MOVIMENTO CIRCULAR, onde o EIXO sobre o qual ele acontece é o membro inferior que servia de base, no caso o membro inferior direito. Para que o chute tivesse seu início foi necessário que o brasileiro, com a contração de diversos grupos musculares, fizesse com que a perna esquerda vencesse a inércia (1ª Lei de Newton) e entrasse em movimento.

O Spider venceu a inércia inicialmente, porém, infelizmente, em um segundo momento essa mesma inércia foi cruel com ele: derrubou, literalmente, o nosso compatriota...

Vamos à explicação BIOMECÂNICA. Conceitualmente a 1ª Lei de Newton (Princípio da Inércia) diz: "Um corpo em repouso tende, por inércia, a permanecer em repouso; um corpo em movimento tende, por inércia, a continuar em movimento". E foi nessa segunda parte do conceito que o Spider sofreu.

A força aplicada no chute (de grande magnitude, disso ninguém duvida) teve sua localização espacial no PLANO OBLÍQUO (entre o transverso e o sagital) e EIXO numa PERPENDICULAR (90°) em relação ao plano anteriormente descrito. O movimento teve velocidade angular maior que zero desde que a inércia foi vencida e até o momento em que a face frontal do terço médio da perna de Anderson encontrou frontalmente a tíbia do adversário, bem próximo da tuberosidade (observe na foto acima), onde a área de secção transversal é uma das maiores de todas no eixo longitudinal deste osso, o que confere maior resistência neste ponto (Weidman levou vantagem). Pela mesma explicação de área de secção transversa observemos no caso do brasileiro: a área de seção transversa era menor, associada ao fato de a tíbia ser um osso longo e também o tecido ósseo ter menos tolerância a forças de CISALHAMENTO (forças de mesma direção, mas sentidos opostos).

A partir do contato entre a perna de Silva e a de Weidman houve uma DESACELERAÇÃO do movimento. Distalmente, a partir do ponto de contato, pela inércia, o chute continuou acontecendo, ocasionando estresse do material (osso) que culminou com a perda da continuidade da matéria (fratura do tipo fechada), além de lesões nas adjacências afetando partes moles (músculos, tendões e vasos sanguíneos).

Esta explicação serve para mostrar o quão a BIOMECÂNICA está presente no nosso cotidiano. Mas preferencialmente que a percebamos de forma menos dolorosa que o Anderson Silva.


Matéria muito bem escrita por; Aurifran Barroso
Fisioterapeuta - 158332-F (CREFITO-6)
Especialista em Biomedicina do Exercício e do Esporte - UFC