A sociedade vive hoje uma intensa luta pela inclusão social, luta pelos direitos igualitários para que as crianças possam viver e conviver em igualdade com os seus colegas de classe e deixarem de ser excluídos como são atualmente. E como a educação é considerada o berço construtivo de uma sociedade, não se pode distanciar da inclusão educacional, construindo assim uma escola acessível e democrática, atendendo às necessidades educacionais especificas de cada aluno, principalmente do aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Todos os seres humanos nascem livres e são iguais em dignidade e direito. Na educação física, temos um fator importantíssimo para o trabalho da igualdade, da união e, principalmente, da socialização das crianças, que é a necessidade de trabalhar em grupo. Com isso, alem de fornecer a inclusão da criança nessa atividade, a socialização é estimulada, uma das principais dificuldades da criança com TEA.
A criança com TEA assim como outras crianças com outros tipos de deficiência é a que se diferencia das demais em uma ou mais das seguintes áreas de desenvolvimento:
- características intelectuais;
- aptidões sensoriais;
- características neuromusculares e corporais;
- comportamento emocional;
- aptidões de comunicação;
- múltiplas deficiências, até o ponto de justificar a modificação das práticas educacionais ou a criação de serviços de educação especial no sentido de desenvolver ao máximo suas capacidades.
A criança com TEA tem os direitos iguais aos de qualquer outra criança. Por isso, é fundamental, dentro de suas capacidades e limitações, adaptar uma educação física de qualidade para que possam desenvolver suas capacidades, que serão de suma importância para o desenvolvimento das habilidades motoras, comunicação, linguagem, flexibilidade mental e comportamental do ser humano como um todo. Isso refletirá na sua qualidade de vida quando adulto, no trabalho que irá executar, nas atividades da vida diária e em toda trajetória da sua vida.
A educação física com o Foco no Movimento.
Considerando que a educação física tem como foco o movimento do corpo humano, ou seja, o desenvolvimento motor, à medida que a habilidade física vai amadurecendo, a criança passa a desenvolver também conhecimento melhor do seu corpo, da sua forca, lateralidade e melhora do desenvolvimento psicomotor como um todo.
Além de favorecer o desenvolvimento psicomotor, a educação física na escola ajuda a criança a planejar estratégias, aprender regras proporcionando avanços diretamente na parte cognitiva e social da criança com autismo.
Muitos benefícios podem ser obtidos com ajustes na metodologia da educação física para autistas, para auxiliá-los na aprendizagem motora e no desenvolvimento de habilidades especificas que fazem parte da relação ensino-aprendizagem, levando em consideração o contexto social em que a criança esta inserida, ou seja, observação é fundamental.
A ligação entre educação física e educação especial se estreitou quando se passou a pensar na necessidade das pessoas com deficiência. Isso fez com que a ginástica meédica fosse substituída pela educação física adaptada, que assumiu algumas responsabilidades físicas especificas englobando também a educação física corretiva.
Somado a isso, a educação física como meio pedagógico apresenta contribuições relevantes para a criança com autismo que vão além do trabalho com o corpo. E independentemente do cognitivo, afetivo, psicomotor, sempre haverá uma resposta ao estimulo e método realizados.
A educação física é capaz de potencializar a socialização e a interação entre as crianças, fazendo com que desenvolvem sua consciência corporal mediante o próximo. Quando a criança aprende a compreender as emoções na educação física estruturada, ambientada e com materiais adequados, as dificuldades de compreensão do aspecto emotivo no que diz respeito à interação social podem ser amenizadas.
O desenvolvimento da aprendizagem da criança com TEA é lento e gradativo. Cabe ao professor adequar o seu sistema de ensino para esse aluno, observando a coordenação motora ampla, fina e visomotora, percepção, imitação, performance cognitiva, cognição verbal e as áreas de relacionamento como: afeto, interesse por materiais, respostas sensoriais, linguagem verbal e não verbal.
Assim, a educação física pode estabelecer relação importante entre a aprendizagem funcional e natural, dependendo de como o professor explora as atividades desenvolvidas com a criança com TEA. O profissional desta área deve utilizar atividades baseadas no que a criança gosta, não impondo algo que ela nunca teve contato e não gosta, mas sim acrescentando-as gradativamente conforme a criança for se adaptando.
O uso de locais com muitos estímulos visuais e auditivos pode atrapalhar a concentração, prejudicando a atividade física, logo devem ser evitados. As atividades devem respeitar a idade cronológica, devem apresentar sequencia, inicio, meio e fim, apresentar circuito com obstáculos, transposição de objeto, mudança de direção, equilíbrio dinâmico e estático, saltos, lançamentos, jogos de bolas, ajudando na aquisição das habilidades motoras.
O profissional de educação física não pode dar ênfase ao aprendizado dos movimentos, mas sim na utilização com meio para alcançar os objetivos propostos, e lembrar que para uma intervenção de qualidade é necessária uma avaliação motora com triagem, diagnostico e prescrição. Uma avaliação especifica deve ser feita adaptando e oferecendo atendimento especializado de acordo com as habilidades e possibilidades de cada criança, visando proporcionar o desenvolvimento de suas potencialidades, como também sua interação na sociedade.
Diversas ferramentas pedagógicas podem ser usadas para colaborar com o avanço da criança autista. O brincar é uma possibilidade pedagógica encontrada dentro da diversão e conteúdo da educação física, colaborando, assim, diretamente ao desenvolvimento da criança com TEA.
O planejamento de aulas, materiais e local adequado não é o suficiente para alcançar os objetivos desejados. É necessário que o profissional tenha boa desenvoltura de estratégias levando em consideração adaptações necessárias, que seja companheiro e ajude a criança a superar suas dificuldades.
Os jogos com regras fazem parte da evolução normal das crianças, e a criança com TEA pode estacionar em fases que não correspondem à sua idade cronológica; diante disso, o educador físico deve pensar em estratégias de jogo que possam dar inicio a partir da fase que a acriança se encontra, auxiliando em sua evolução naturalmente e explorando todo potencial existente nessa criança.
Os jogos podem ser classificados de diferentes formas, de acordo com o critério adotado. Vários autores se dedicaram ao estudo do jogo, entretanto, Piaget elaborou uma “classificação genética baseada na evolução das estruturas”.
Os jogos simbólicos aparecem predominantemente entre dois e seis anos de idade, com função de produzir satisfação do “eu” por meio de transformação real, de acordo com os desejos, ou seja, assimilar a realidade e ensinar a criança a lidar com o mundo a sua volta, formando sua personalidade. Esse jogo de faz de conta possibilita à criança a realização de sonhos, fantasias, revela conflitos, medos e angustias, alivia tensões e frustrações, colocando-se num universo simbólico.
A partir dos sete anos de idade, o principal progresso que há em relação ao anterior é o desenvolvimento da capacidade que a criança tem de substituir um objeto, uma ação, situação ou pessoa por símbolos ou palavras. Isso significa que a inteligência da criança se torna capaz de usar esquemas simbólicos ou representacionais. Nesse novo processo surge a nova capacidade de imitação, processo que viabiliza e assimila a realidade do próprio “EU”.
A atividade física esta intimamente relacionada ao esporte, independente da forma que é apresentada e organizada. Sabe-se que o esporte tem regras, uniformes, medalhas, troféus, e que na atividade física escolar, jogo e esporte são inseparáveis. Desse modo, o esporte também pode fazer parte da vida de uma criança com autismo, dependendo do suporte e adaptação fornecidos para inclusão deste, podendo este ser individual ou coletivo.
Atualmente, temos grandes atletas mundiais com ótima performance que, mesmo com diagnostico de TEA, conseguem competir e praticar atividades esportivas como qualquer outra pessoa.
Muitas crianças, inclusive, têm o esporte ou na atividade física especifica como uma das áreas de interesse restrito, que faz parte dos critérios diagnósticos do TEA. E muitas pessoas também acreditam na importância de reconhecer esses interesses nas crianças com autismo.
Independente do tipo de esporte escolhido, poder-se integrar a criança de acordo com suas habilidades. É muito importante verificar se os professores e terapeutas estão em contato uns com os outros com objetivo de integrar as atividades sociais, acadêmicas e físicas, ajudando a minimizar os sintomas cognitivos e sensoriais das crianças.
Mesmo que a criança não esteja pronta para um esporte de equipe, não significa que possa aprender alguns princípios básicos – fazendo um gol, pegar uma bola etc. incentivar, acreditar e lutar podem ser um bom caminho para melhor qualidade de vida dessa criança. É preciso considerar os três aspectos relativos aos jogos desportivos coletivos: a imprevisibilidade (ações que nunca se repetem), a criatividade (não fazer somente o óbvio) e a complexidade (em que devemos considerar os diversos elementos inerentes à pedagogia do esporte). O esporte pode contemplar o contexto mercadológico, entretanto, qualquer que seja a motivação, do praticante, a sua natureza será sempre educacional.
Os esportes em geral, principalmente os individuais, atuam no desenvolvimento da personalidade da criança, pois exigem melhor preparação psicológica para a sua prática. Auxiliam no desenvolvimento de potenciais de confiança, perseverança, motivação intrínseca e segurança, exigindo, assim, níveis variados de disciplina que conduzam a comportamentos adequados, que permitam sua movimentação em grupos sociais distintos.
Desse modo, a educação física e o esporte apresentam importante função quando se fala de TEA, podendo ajudar na melhoria da qualidade de vida das crianças, visando principalmente a uma trajetória de sucesso na vida adulta.
Matéria de Anselmo Franco.
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