quinta-feira, 3 de junho de 2021

04 – PEB III – LÍNGUA PORTUGUESA – PROVA 01 DIDICA. VIANA 2019. PROFESSOR DE PORTUGUÊS

Questão 21 Segundo Libâneo (1993), o plano de aula é um instrumento que sistematiza todos os conhecimentos, atividades e procedimentos que se pretende realizar em uma determinada aula, visando alcançar os objetivos propostos. Sobre o plano de aula e as etapas que o constituem, analise as assertivas e marque a correta. I – Justificativa: O motivo pelo qual irá se trabalhar determinado assunto. II – Metodologia: A forma como irá ser trabalhado o assunto. III – Objetivos Específicos: O que os alunos irão alcançar com esse assunto. IV – Etapas previstas: Previsão do tempo, onde o professor poderá organizar tudo o que irá trabalhar em pequenas etapas. V – Avaliação: Todo o material que o professor irá utilizar para fazer a avaliação. a) Somente I, II e IV estão corretas. b) Somente II e IV estão corretas. c) Somente, II, III e V estão corretas. d) Somente I, III e IV estão corretas. Um plano de aula deve conter as seguintes etapas: 1 – O tema abordado: o assunto, o conteúdo a ser trabalhado; 2 – A justificativa: o motivo de se trabalhar determinado assunto; 3 – Os objetivos gerais a serem alcançados: o que os alunos irão conseguir atingir com esse trabalho; com o estudo desse tema; 4 – Os objetivos específicos: relacionados a cada uma das etapas de desenvolvimento do trabalho; 5 – As etapas previstas: mais precisamente uma previsão de tempo, onde o professor organiza tudo que for trabalhado em pequenas etapas; 6 – A metodologia que o professor usará: a forma como irá trabalhar, os recursos didáticos que auxiliarão a promover o aprendizado e a circulação do conhecimento no plano da sala de aula; 7 – A avaliação: a forma como o professor irá avaliar, se em prova escrita, participação do aluno, trabalhos, pesquisas, tarefas de casa, etc. 8 – A bibliografia: todo o material que o professor utilizou para fazer o seu planejamento. É importante tê-los em mãos, pois caso os alunos precisem ou apresentem interesse, terá como passar as informações. Cada um desses aspectos irá depender das intenções do professor, sendo que este poderá fazer combinados prévios com os alunos, sobre cada um deles. Questão 22 Para uma seleção justa todos devem fazer o mesmo exame: por favor, subam nesta árvore. Sobre o Planejamento Escolar, é INCORRETO: a) Na construção do planejamento o professor tem como checar mais precisamente as características de sua turma bem como suas dificuldades. b) Planejar é uma ação dispensável à vida pessoal e também a profissional seja da área da educação ou das demais áreas. Indispensável. c) Cada aula é uma situação didática especifica e singular, onde objetivos e conteúdos são desenvolvidos com métodos de realização da instrução e do ensino, de maneira a proporcionar aos alunos conhecimentos e habilidades. d) Para desenvolver a função didática, o professor é responsável pelo planejamento, organização, direção e avaliação das atividades que compõem o processo ensino aprendizagem. Questão 23 O ensino é um processo caracterizado pelo desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos alunos em relação ao domínio dos conhecimentos e habilidades, e com isso, a aplicação à sua vida prática. Por isso, é correto afirmar, que o processo de ensino é: a) Projetivo e parcial. b) Modular e conjugal. c) Coletivo e imparcial. d) Intencional e sistemático. A educação escolar é um processo sistemático e intencional de interação com a realidade, implica a elaboração e realização de um programa de experiências pedagógicas, o currículo. ... um conjunto de objetivos a serem alcançados e as experiências escolares que desdobram em torno do conhecimento Questão 24 Tanto a Didática como a Metodologia estudam os métodos de ensino, no entanto, o que as diferem são os pontos de vista que cada um possibilita. Analise as afirmativas e marque a opção CORRETA. (...F..) A metodologia estuda os métodos de ensino, classificando-os e descrevendo-os com juízo de valor. (..V...) A didática faz um julgamento ou uma crítica do valor dos métodos de ensino. (...V..) Podemos ser metodológicos sem sermos didáticos. Mas não podemos ser didádico sem sermos metodológico (...F..) Metodologia é o “para que este ensino será utilizado” e Didática é “como o ensino será aplicado”. O exanador iInverteu a) V, V, F, V. b) F, F, V, V. c) F, V, V, F. d) V, F, F, V. A Metodologia estuda os métodos de ensino, classificando-os e descrevendo-os sem fazer juízo de valor. A Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos métodos de ensino. Podemos dizer que a metodologia nos dá juízos de realidades, e a Didática nos dá juízo de valor. Questão 25 A avaliação é um processo de ensino e aprendizagem, que deve ser realizada de forma continua e sistemática, onde não devemos priorizar somente resultados, mas investigar, interrogar e buscar identificar conhecimentos e dificuldades de cada aluno. De acordo com os estudos de Bloom (1993), a avaliação apresenta três tipos de funções, que são: a) Analítica, Controladora e Classificatória. b) Somativa, Formativa e Evolutiva. c) Classificatória, Analisadora e Compulsiva. d) Atitudinal, Gradativa e Evolutiva. A avaliação diagnóstica (analítica) é adequada para o inicio do o período letivo, pois permite conhecer a realidade na qual o processo de ensino-aprendizagem vai acontecer. A avaliação formativa(controladora) é aquela que tem como função controlar, devendo ser realizada durante todo o período letivo, com o intuito de verificar se os estudantes estão alcançando os objetivos propostos anteriormente. A avaliação somativa (classificatória), tem como função básica a classificação dos alunos, sendo realizada ao final de um curso ou unidade de ensino. Classificando os estudantes de acordo com os níveis de aproveitamento previamente estabelecidos. Questão 26 Bullying é uma prática de atos de violência sejam físicos ou psicológicos, que são cometidos por um ou mais agressores contra uma determinada vítima. Sobre as consequências deste ato, é correto afirmar: a) Os autores, ainda crianças, que praticam o Bullying tem pouca probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos violentos. Tem maior chance. b) Nem todos que sofrem o Bullying, são capazes de ficar com sequelas. Somente aqueles que possuem baixa autoestima sofrem com tal ato. Todos sofrem, inclusive quem presencia. c) Troca de colégio e abandono de estudos pode acontecer como forma de solucionar o medo e a falta de amigos que o alvo possa vim a sentir. Abandonar os estudos nunca é a solução. d) As testemunhas, apesar de não sofrerem as agressões, diretamente, podem se sentir incomodadas e inseguras sobre o que fazer para ajudar. Questão 27 A equipe pedagógica se reúne e discute sobre o desempenho dos discentes, além de elaborarem estratégias de ensino, adequação da organização curricular e outros aspectos referentes ao processo de ensino-aprendizagem. A esse processo chamamos de: a) Conselho de professores. b) Conselho pedagógico. c) Conselho escolar. d) Conselho de classe. O Conselho de Classe é órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa em assuntos didático-pedagógicos, fundamentado no Projeto Político Pedagógico da escola e no Regimento Escolar. É o momento em que professores, equipe pedagógica e direção se reúnem para discutir, avaliar as ações educacionais e indicar alternativas que busquem garantir a efetivação do processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. O conselho de classe tem três responsabilidades principais: Planejamento estratégico: participação no desenvolvimento e monitoramento do Projeto Político Pedagógico (PPP), avaliação do nível de aprendizado dos alunos (seja de forma individual ou coletiva), acompanhamento do trabalho dos professores frente aos objetivos propostos no plano, mensuração do sucesso das estratégias em prática no ano letivo, entre outros; Desenvolvimento e revisão de políticas: desenvolvimento, revisão e atualização de políticas que refletem os valores de uma escola e apoiam a ampla orientação da escola descrita em seu PPP; Finanças: supervisionar o desenvolvimento do orçamento anual da escola e garantir que a relação custo x benefício da utilização dos recursos é positiva e gera benefícios para a comunidade escolar. Os conselhos escolares são constituídos por pais, representantes de alunos, professores, funcionários, membros da comunidade e diretores de escola. ... Cabe ao conselho zelar pela manutenção da escola e monitorar as ações dos dirigentes escolares a fim de assegurar a qualidade do ensino. Cada Conselho Escolar tem suas ações respaldadas através do seu próprio Estatuto, que normatiza a quantidade de membros, formas de convocação para as reuniões ordinárias e extraordinárias, como é realizado o processo de renovação dos conselheiros, dentre outros assuntos que competem a essa instância. Neste sentido, cabe aos conselhos escolares: deliberar sobre as normas internas e o funcionamento da escola; participar da elaboração do Projeto Político-Pedagógico; analisar e aprovar o Calendário Escolar no início de cada ano letivo; analisar as questões encaminhadas pelos diversos segmentos da escola, propondo sugestões; acompanhar a execução das ações pedagógicas, administrativas e financeiras da escola e; mobilizar a comunidade escolar e local para a participação em atividades em prol da melhoria da qualidade da educação, como prevê a legislação. O artigo 31.º do Decreto-Lei n.º 75/2008, alterado pelo Decreto-Lei n.º 137/2012, de 2 de julho, define o conselho pedagógico como o órgão de coordenação e supervisão pedagógica e orientação educativa do agrupamento de escolas, nomeadamente nos domínios pedagógico-didático, da orientação e acompanhamento dos alunos e da formação inicial e contínua do pessoal docente e não docente. Ao conselho pedagógico compete: a) Elaborar a proposta de projeto educativo a submeter, pelo diretor, ao conselho geral; b) Apresentar propostas para a elaboração do regulamento interno e dos planos anual e plurianual de atividade e emitir parecer sobre os respetivos projetos; c) Emitir parecer sobre as propostas de celebração de contratos de autonomia; d) Elaborar e aprovar o plano de formação e de atualização do pessoal docente; Questão 28 Segundo Vygotsky existem três momentos importantes da aprendizagem da criança. ( 1 ) Zona de desenvolvimento potencial. ( 2 ) Zona de desenvolvimento real. ( 3 ) Zona de desenvolvimento proximal. (.....) Tudo que a criança realiza com o apoio de outras pessoas. (.....) Tudo que a criança ainda não domina, mas que se espera que ela seja capaz de realizar. (.....) Tudo que a criança já é capaz de realizar sozinha. A ordem CORRETA está inserida na alternativa: a) 1, 2, 3. b) 2, 1, 3. c) 3, 2, 1. d) 3, 1, 2.
Questão 29 Itens fundamentais que o processo de avaliação formativa e permanente propõe: a) Verificar aprendizagem e obter notas. b) Obter notas para aprovação ou reprovação e analisar desempenhos. c) Possibilitar o diagnóstico como ponto de partida para o trabalho, considerando os objetivos propostos. A partir do diagnóstico no início do ano alcançar o objetivo proposto. d) Obter resultados a partir de projetos de conteúdos específicos. Questão 30 A formação cultural da criança está em primeiro plano relacionada ao seu convívio familiar e secundariamente a sua formação educacional. É na educação infantil que a criança começa a criar a base fundamental para seu desenvolvimento. Analise as assertivas abaixo sobre o tema mencionado, e assinale a opção CORRETA. I – É no ambiente escolar que a criança deve ser observada por profissionais gabaritados, os quais poderão detectar possíveis dificuldades para que possam ser trabalhadas a tempo e não virem a ser um problema em suas futuras aprendizagens. II – As práticas de educação e cuidados voltadas à criança pequena se destinam a possibilitar a ela a integração entre os aspetos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais. III – A identificação precoce das necessidades individuais abre portas para o desenvolvimento das potencialidades da criança de uma forma mais ampla. a) Somente I e II estão corretas. b) Somente II e III estão corretas. c) Somente I e III estão corretas. d) Todas as opções estão corretas.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

BRINQUEDO, BRINCADEIRA, JOGOO E RECREAÇÃO.

O brinquedo estimula a representação, •a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade, •propõe um mundo imaginário da criança e do adulto, criador do objeto lúdico. •o imaginário varia conforme a idade: para o pré -escolar e 3 anos está carregado de animismo, já de 5 a 6 anos integra predominantemente elementos da realidade. •não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. •é sempre suporte de brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o im aginário infantil. E a brincadeira? O que é afinal? •É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. •Dessa forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. A concepção de jogo está integrada tanto ao objeto (brinquedo) quanto à brincadeira. É uma atividade mais estruturada e estabelecida por um princípio de regras mais explícitas. Exemplos clássicos seriam: Jogo de Mímica, de Cartas, de Tabuleiro, de Construção, de Faz-de-Conta etc. Uma particularidade importante do jogo é o seu emprego tanto por crianças quanto por adultos, enquanto que o brinquedo tem uma agregação mais exclusiva com o universo infantil O jogo na escola •Ajuda no desenvolvimento de regras na escola; •Permite à criança a percepção da passagem do jogo para o trabalho. •considera a memória lúdi ca da comunidade em que o estudante estiver inserido, •Ir além: oferecendo-lhes o conhecimento de jogos das diversas regiões brasileiras e até de outros países/ culturas. É necessário estabelecer ações que ajudem os estudantes a relacionarem os jogos com sua cultura de origem. Recreação é uma forma de passar o tempo para obter distração, ou seja, relaxamento mental ou físico. Diferente do lazer, ela exige empenho em atividades de forma a obter diversão. Jogos, Dinâmicas e Brincadeiras de roda, cinema, praia...

Ensino de estratégias de textualização: a construção do sentido do texto.

A textualidade é o conjunto de características responsáveis por demarcar a produção de linguagem como texto, ou seja, é o que permite que algo seja percebido como um texto. Se o texto não é apenas uma justaposição de frases, é porque ele possui essas características que, em conjunto, permitem a unidade de sentido textual. Todo texto é um ato comunicativo, visto que ele só é produzido em função de uma motivação inicial, um desejo de dizer ou expressar algo. Para que o texto funcione adequadamente, ele precisa apresentar essas características, permitindo assim que o ato comunicativo se estabeleça com eficácia. Fatores de textualidade Os fatores de textualidade são responsáveis por influenciar a produção e a interpretação dos textos. Eles se dividem em duas categorias: os fatores semânticos; os fatores pragmáticos. Cada um deles parte de perspectivas diferentes, porém complementares. A princípio, no início dos estudos do texto, as pesquisas focavam somente nos aspectos inerentes à língua. Com o desenvolvimento da linguística, compreendeu-se que a compreensão de um texto não se explicava somente por seus aspectos estruturais, mas também contextuais, assim, consolidaram-se dois fatores de textualidade. Fatores semânticos: são aqueles que privilegiam o estudo da estrutura textual, a língua, ou seja, a sua concentração está no próprio texto. Dentro dessa categoria, apresentam-se dois elementos da textualidade: coerência e coesão. A primeira foca nos sentidos construídos e na não contradição entre as ideias, e a segunda, nas amarrações do texto, nas relações estabelecidas entre as partes, para unificar o sentido. Fatores pragmáticos: referem-se aos aspectos extratextuais, ou seja, a elementos que estão fora da língua, mas que, no entanto, influenciam tanto a produção quanto a recepção ou compreensão do texto. Esses fatores continuam a ser estudados e novos elementos são descobertos, de modo que novas categorias, nem sempre tão conhecidas, surgem no estudo da textualidade. As principais e mais reconhecidas são cinco: - intencionalidade; - aceitabilidade; - informatividade; - situcionalidade; - intertextualidade. Elementos da textualidade Os elementos da textualidade são um conjunto de aspectos que constroem os textos e influenciam seu sentido, tanto no que se refere à produção quanto à compreensão. Existe um número de elementos já aceitos e reconhecidos nos estudos do texto, entretanto é importante ressaltar que pesquisas continuam sendo feitas, propondo a inserção de novos elementos. Como dito, os elementos provêm dos fatores da textualidade, que se dividem entre semânticos e pragmáticos. Assim, cada elemento prioriza uma ou outra perspectiva, mas com um objetivo final comum: a garantia da textualidade. No que se refere aos elementos de fator semântico, destacam-se: coerência: elemento responsável por garantir a fluência, clareza e não contradição das ideias, foca-se no texto em seu aspecto semântico; coesão: elemento responsável por garantir a amarração entre as ideias do texto, evidenciando as relações estabelecidas e servindo para associar, retomar e conectar as partes do texto. No que tange aos elementos de fator pragmático, apresenta-se um número maior de elementos, alguns considerados os principais, por serem mais reconhecidos e consagrados, e outros que são novas propostas para ampliar os estudos. Abaixo segue uma lista com os cinco primeiros elementos de fator pragmático. Intencionalidade: refere-se ao modo ou à forma como o autor constrói o texto para alcançar determinada intenção. Nesse sentido, cabem principalmente os textos publicitários, nos quais a linguagem e o texto se moldam para convencer o consumidor. Aceitabilidade: refere-se à recepção do texto, à compreensão do interlocutor sobre a mensagem. Situcionalidade: refere-se ao contexto no qual o texto está inserido, seja na produção, seja na leitura. Esse elemento interfere no uso da língua, na escolha e polidez das palavras, no tom de voz, etc. Graças às situações de uso, um texto pode ter sentido em um contexto e não o ter em outro. Informatividade: refere-se aos dados que o texto apresenta, se são informações novas ou conhecidas. Para que o texto tenha fluência, é importante que ele balanceie os dois tipos de informação. Se o texto só apresentar informações conhecidas, pode ser redundante; se apresentar só informações novas, pode ser incompreensível. Intertextualidade: refere-se às relações discursivas entre diferentes textos. Mesmo que não haja uma intertextualidade explícita no texto, ele precisa considerar informações prévias à sua produção, desse modo, todo texto carrega outros textos em sua composição. Além desses, novos elementos têm sido acrescentados ao estudo da textualidade. Contextualizadores: referem-se a informações contextuais que são necessárias à compreensão dos textos, como data e local. Consistência: refere-se ao desenvolvimento das ideias, exigindo do texto uma construção mais sólida e menos contraditória. Focalização: refere-se à concentração do texto em uma parte do conhecimento ou não, desse modo, entende que a compreensão do texto passa também pelas áreas do conhecimento às quais ele recorre. Diferença entre texto e textualidade Apesar de texto e textualidade estarem no mesmo círculo de estudos e estarem relacionados, o conceito e aplicação de cada um são diferentes. O conceito de textualidade, como analisado acima, refere-se às características presentes em uma produção textual e que são responsáveis por caracterizá-la como texto. O texto, diferentemente, é o produto final, ou seja, a própria produção textual, construída com base nos elementos da textualidade. O texto é uma unidade de sentido, um ato comunicativo realizado por meio de uma produção de linguagem, que pode ser somente verbal ou pode ter a utilização de outras linguagens. Diferença entre textualidade e discursividade As noções de textualidade e discursividade podem se confundir, afinal ambas compreendem o texto como um produto também contextual. Em outras palavras, os dois conceitos abarcam os elementos extralinguísticos que influenciam a produção textual. Entretanto, apesar desse traço em comum, os estudos da discursividade centram-se na língua como um ato social, uma ação concreta no mundo, uma “língua viva”. Essa noção extrapola o estudo da estrutura textual, pertinente à textualidade. A discursividade centra-se na análise dos valores sociais, identitários, políticos e culturais que são construídos, combatidos, reconstruídos ou criados a partir da linguagem. Desse modo, todo discurso possui valor social, que independe de sua forma cumprir ou não determinados padrões estabelecidos culturalmente. 1 Contextualizando o tema Embora venha ocorrendo de modo mecânico, por se tratar de um exercício de treinamento e não de um ato social de interlocução, a prática da escrita tem constituído o conteúdo abordado na aula de português, na escola, tanto no ensino médio quanto no fundamental. Conforme explicita Bunzen (2006), em algumas escolas, existem professores específicos para administrar a disciplina de Redação. A esses profissionais compete a tarefa de ensinar o aluno a escrever narrações, descrições e, principalmente, dissertações. Ao propor a dinâmica da escrita, de modo geral, o professor está mais interessado em avaliar se o aluno sabe escrever de acordo com as regras da língua padrão do que realmente preocupado em saber o que o educando conhece e pensa sobre determinado assunto ou acerca da realidade em que vive. Nesse sentido, Antunes (2006, p. 165) complementa que, sob esse enfoque, “avaliar uma redação, por exemplo, se reduz, assim, ao trabalho de apontar erros, de preferência aqueles que se situam na superfície da linha do texto”. A prática de redação consiste em um ato avaliativo e não em um processo de interação, de diálogo entre dois interlocutores: aluno e professor, aluno e aluno, aluno e comunidade, entre outras opções. Eis a situação: o aluno escreve um texto para que o professor aponte os erros (principalmente os gramaticais e de coesão) e atribua uma nota. Qual seria o estímulo para o aluno realmente dizer o que sente e pensa se o próprio processo de produção textual não o incentiva a agir dessa forma? Como encontrar satisfação, e até mesmo prazer, em realizar essa atividade escolar tão destituída de sentido e de significação? Após uma longa trajetória de ensino de língua materna direcionado à Gramática Normativa, defendendo a tese de que o domínio das regras da língua padrão, através de exercícios automáticos e mecânicos, seria o método ideal para expressar-se com clareza e objetividade, os resultados obtidos nas escolas (e em diversas provas e demais processos avaliativos) nos mostram que essa prática precisa mudar, pois tanto o objeto de estudo como o modo de abordá-lo necessitam de alterações, inovações. Na medida em que assumimos o texto como foco principal do ensino de língua, é preciso rever também os princípios que norteiam as estratégias de leitura, de estudos gramaticais e, principalmente, os mecanismos empregados no exercício de produção textual, tanto na modalidade oral quanto escrita. Com essa nova abordagem, produzir texto consiste em um ato social em que alguém diz algo a outro alguém não somente para ser avaliado, mas para posicionar-se sobre determinada questão, para interagir com o outro que o cerca, seja ele o professor, os colegas ou a comunidade de modo geral. Há, então, mais probabilidade de que o ato de se expressar, via fala ou escrita, seja um exercício interessante e, quem sabe, até prazeroso. Levando em conta a complexidade de textos, mais especificamente, de gêneros textuais que circulam em nossa sociedade contemporânea, e a importância que tal materialidade discursiva exerce no processo de interação social, é possível entender a ênfase que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs-1998, 1999) atribuem ao uso desse material, no meio escolar. Esse documento oficial elege o texto como objeto de ensino e sugere a prática de escuta, análise de elementos linguísticos, leitura e produção de textos dos diferentes campos discursivos que o aluno precisa dominar para exercer sua efetiva participação social. Diante desse quadro nos perguntamos: com toda essa riqueza de material verbal de interação existente e precisando ser trabalhado na sala de aula, continua sendo pertinente que o professor de português dedique tanto tempo de sua aula efetuando exercícios de metalinguagem, com o velho objetivo de identificar, classificar e avaliar? Será que tais atividades podem levar nosso aluno ao objetivo almejado pela maioria dos professores de língua materna: que o aluno se comunique melhor, tanto falando quanto escrevendo? Essa mudança de concepção exige um redimensionamento na seleção das atividades propostas e no enfoque dado à produção textual. Como estimular o aluno a ter interesse em expressar-se, tanto falando como escrevendo? Nessa linha de pensamento, seguimos nosso estudo refletindo sobre a passagem da composição à redação e, finalmente, à produção textual. Mais do que simples troca de nomenclatura, há mudanças nas concepções, nos princípios e na prática didático-metodológica. Encontramos um novo olhar da prática da produção escrita na escola. 2 Do exercício da redação à prática da produção textual Até chegarmos à realidade atual, em que produzimos textos (alguém que diz algo a outro alguém com determinada intenção), tivemos diferentes abordagens dessa prática no meio escolar, com maior ou menor ênfase à escrita, dependendo das definições defendidas em cada época. Guedes (2008, p. 88) nos orienta que as expressões composição, redação e produção textual diferenciam-se por se “vincularem a teorias que expressam diferentes formas de considerar não só a ação de escrever, a ação de ensinar a escrever textos e a ação de exercitar a linguagem, mas também nossa própria organização social”. Isso significa que por trás da nomenclatura subjaz uma teoria a qual sustenta não somente o objeto de estudo, mas também a metodologia empregada. 2.1 Composição e redação: diferentes enfoques Traçando um breve percurso histórico do processo que envolve o estudo de língua portuguesa no meio escolar, mais especificamente, do final do século XVIII até meados do século XX, podemos notar que o enfoque era dado ao ensino de regras gramaticais (normativas) e ao exercício de leitura, entendida, conforme esclarece Bunzen (2006, p. 141), “como uma prática de decodificação e memorização de textos literários”. Nessa época, a atividade de escrita, denominada composição, era exercitada somente nas séries finais do ensino secundário, nas disciplinas de Retórica, Poética e Literatura Nacional. A partir de títulos e de textos-modelo, o aluno deveria escrever uma composição. Como vemos, trata-se de um exercício de imitação, já que se parte de modelos pré-determinados, os quais devem ser copiados, reproduzidos. Não há espaço à criatividade nem à inovação. É a partir da década de 70, influenciada pela Lei 5692/71, que o exercício de redação ganha ênfase no ensino de língua. Essa lei provoca mudanças no objetivo, na metodologia e no método de trabalhar a língua materna. Os objetivos passam a ser pragmáticos, com vistas a desenvolver a postura do aluno como emissor e recebedor de mensagens, por meio de códigos diversos, tanto verbais como não verbais. Nessa perspectiva, o ensino de língua é visto como atos de comunicação e expressão; o texto é definido como uma mensagem que precisa ser decodificada pelo receptor; e a língua consiste em um conjunto de sinais (um sistema) que possibilita a decodificação da mensagem. Nesse enfoque, construir um texto consistia em “submeter uma mensagem a uma codificação, o que é, em certo sentido, uma visão bastante reducionista da própria interação verbal, seja escrita ou oral, pois observa a língua de forma monológica e a-histórica” (BUNZEN, 2006, p. 145). Foi, entretanto, o Decreto Federal no 79.298, de 24 de fevereiro de 1977, que realmente impulsionou a adesão maciça da prática de redação na escola, principalmente no ensino médio, a partir de janeiro de 1978. Tal Decreto determinou que todas as Instituições que realizam vestibulares eram obrigadas a efetuar uma prova de redação na disciplina de língua portuguesa. A decisão de obrigatoriedade de fazer redação para ingressar no Ensino Superior redimensionou o currículo e a metodologia do ensino de língua na escola, principalmente, no médio. Desde então, a comunidade escolar optava por um dos dois caminhos: ou preparava o aluno para o trabalho, oferecendo cursos profissionalizantes, ou, como acontecia na maioria dos casos, preparava o aluno para passar no vestibular, enfatizando o ensino de redação, principalmente do texto dissertativo, modalidade exigida pela maioria das Universidades e outras Instituições de ensino superior. Na época, acreditava-se que essa medida melhoraria a qualidade na capacidade do aluno de se expressar por escrito. No entanto, diversos trabalhos e pesquisas de estudiosos da linguagem, como é o caso de Pécora (1983), Geraldi (1991) e Travaglia (2002), mostram que o problema não estava na falha linguística dos alunos, não se tratando de uma deficiência patológica, mas estava diretamente relacionado com as condições de produção e do processo de ensino e aprendizagem da atividade de escrita, efetuada na sala de aula. Grosso modo, a problemática não estava na produção dos alunos, mas nas concepções e na inadequação das propostas de produção escrita, o que acabava afetando a qualidade do produto em si. Em síntese, um processo inadequado gerava um produto de baixa qualidade. O que estava faltando é que o aluno pudesse assumir seu papel de sujeito-autor ao produzir seus textos. 2.2 O exercício de produção escrita: um processo de interação verbal No início, a produção escrita era uma prática que recebia pouco espaço no ensino e aprendizagem de língua na escola. Mais tarde, embora tenha sido uma atividade realizada, até mesmo com ênfase, principalmente no ensino médio, acabou se tornando uma espécie de ajuste de contas entre professor e aluno. Redigir um texto consistia em uma atividade árdua em que o aluno deveria se postar diante da folha em branco e escrever sobre um assunto que, muitas vezes, não tinha praticamente nada a dizer, por ser uma escolha do professor e não sua. Além disso, não tinha a oportunidade de se informar sobre o tema antes de se pronunciar sobre ele. Sob essas condições de produção, a redação se tornou um exercício mecânico em que o aluno redige um texto para que o professor aponte erros cometidos, principalmente, os desvios gramaticais e de coesão, uma vez que esses são de fácil identificação por estarem marcados na superfície do texto. Soma-se a isso o fato que a redação tem servido de instrumento para avaliar o desempenho do aluno no conhecimento da língua padrão, única variedade linguística reconhecida no meio escolar. Nesses últimos anos, muitas descobertas têm sido feitas em todas as áreas, principalmente no campo da comunicação, sendo que as práticas de interação social vêm mudando com bastante frequência. Não seria, então, papel da escola o de trazer essa realidade para ser trabalhada pelos alunos na aula de língua materna? Sob essa ótica, vemos o texto e, de modo mais amplo o gênero textual, como objeto de estudo no ensino de língua. Surgem as questões: como estudar o texto? De que maneira trabalhá-lo? Ao nosso ver, deve ser abordado por de diferentes estratégias de leitura e produção textual (oral e escrita), prática didático-metodológica que, paulatinamente, poderá aperfeiçoar a capacidade de expressão do aluno, tanto falando como escrevendo. 2.2.1 O texto e o gênero textual Eleito o texto (e o gênero textual) como objeto de estudo, é de primordial importância que seja definido a concepção que temos em mente. Quando nos referimos a texto, estamos pensando em uma materialidade linguística de variada extensão, que constitui um todo organizado de sentido, isto é, seja coerente e adequado à comunicação (tanto oral quanto escrita) a qual se propõe, em determinada situação social. Trata-se de uma produção verbal que exerce adequadamente sua funcionalidade comunicativa, ou seja, de uma manifestação verbal, constituída de elementos lingüísticos de diversas ordens, selecionados e dispostos de acordo com as virtualidades que cada língua põe à disposição dos falantes no curso de uma atividade verbal, de modo a facultar aos interactantes não apenas a produção de sentidos, como a de fundear a própria interação como prática sociocultural. (KOCH, 2003, p. 31) Nesse sentido, Marcuschi (2002, p. 24) define o texto como “uma identidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual”. Isso mostra que o texto, ao circular socialmente, sob uma enorme gama de gêneros textuais, pode ser desde um enunciado como “Pega ladrão!”, “Socorro!”, uma poesia, uma crônica, uma bula de remédio, uma receita culinária, um e-mail, uma reportagem, uma charge, uma história em quadrinhos, um edital, um blog, uma ata, uma resenha crítica, um bilhete, um manual de instrução até um romance de vários volumes. Para Pereira et al. (2006, 32), o gênero textual “refere-se aos textos encontrados na vida diária que apresentam características sócio-comunicativas definidas pelo contexto de produção, conteúdo, propriedades funcionais, estruturação do texto”. Os gêneros textuais remetem aos diferentes formatos que os textos assumem para desempenhar as mais diversas funções sociais, ressaltando suas propriedades sociocomunicativas de funcionalidade e de intencionalidade. Eles apresentam diferentes caracterizações, com vocabulários específicos e empregos sintáticos apropriados, em conformidade com a função social que exercem. No entender de Bronckart (1999, p. 48), “conhecer um gênero de texto também é conhecer suas condições de uso, sua pertinência, sua eficácia ou, de forma mais geral, sua adequação em relação às características desse contexto social”. Nesse contexto, compete ao professor de língua materna criar oportunidades para que o aluno estude os mais diversos gêneros textuais, sua estrutura e funcionalidade, para que se tornem capazes não só de reconhecê-los e compreendê-los, mas também de construí-los de modo adequado, em suas variadas situações sociais. Fazemos nossas as palavras de Geraldi (2006), quando o autor especifica que o exercício dessas habilidades pode proporcionar o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno, capacitando-o a um bom desempenho na sua vida diária, nos mais diversos eventos de interação verbal. Seguindo essa linha de pensamento, Brait (2002) enfatiza que, ao estudar os gêneros textuais, precisamos considerar os diferentes aspectos que constituem seu processo de produção, circulação e recepção. Suas condições de produção e de recepção remetem ao questionamento: quem produz a mensagem para quem? Trata-se da identidade social do produtor e do receptor; já a circulação refere-se ao veículo em que circula a mensagem. Tudo isso remete à mensagem em si, ou seja, por que aquilo é dito daquela maneira e não de outro modo? Para Marcuschi (2008, p. 149), “o trato dos gêneros diz respeito ao trato da língua em seu cotidiano nas mais diversas formas”. Como o leitor já deve ter percebido, na medida em que trabalhamos o gênero textual em sala de aula, levando em conta seu caráter funcional, isto é, a partir do papel social que o texto exerce na sociedade, deixamos de fazer redação (gênero escolar) para produzir textos (diferentes gêneros textuais). De acordo com Geraldi (2006), o aluno deixa de desempenhar o papel de função-aluno e passa a exercer o papel de sujeito-aluno, aqui, no caso, o aluno assume o papel de sujeito de seu texto, pois diz o que tem a dizer e não aquilo que o professor espera que ele diga. Dito de outra forma, abandonamos o exercício mecânico e sem sentido de redigir um texto dissertativo, para que o professor possa avaliar o desempenho linguístico do aluno, e passamos à prática social de interagir com o outro por meio de gêneros textuais que circulam em nossa sociedade. Passamos a produzir cartas pessoais e de opinião, editorial, charge, história em quadrinho, poema, e-mail, blog, resenha crítica, resumo, receita culinária, fábula, crônica, reportagem, ata, ofício, curriculum vitae, comunicação, artigo científico e tantos outros mais dessa natureza. Seguindo essa perspectiva, o sentido não está no texto, mas é produzido pela interação estabelecida entre seu autor e o leitor/ouvinte, na medida em que ocorre o processo de leitura-escuta, através da compreensão. Vale lembrar que embora o sentido seja produzido, isso não significa que qualquer interpretação seja válida, uma vez que existem pistas deixadas pelo autor em seu texto que acabam delineando e delimitando determinados sentidos possíveis, impossibilitando o aceite de qualquer interpretação. Resumidamente, ao produzir um texto, o aluno deve assumir-me como locutor, como sujeito de seu dizer, e isso implica que ele tenha o que dizer e tenha razões para esse dizer; que ele saiba a quem dizer, e com que finalidade produz seu dizer. O conhecimento desses elementos o auxilia na escolha das estratégias que constituem seu dizer, na seleção dos mecanismos que determinam o modo de dizer, por fim, na escolha do gênero textual a ser empregado em diferentes situações sociais. Outra questão importante na passagem do ato de fazer redação para a prática social de produção textual consiste nos possíveis receptores do texto produzido. Por que pensamos que o texto construído em aula precisa sempre ser lido pelo professor? E mais, sempre receber uma nota? Por que não pode estar dirigido a um colega da turma, ou de outra série, ou a um amigo, ou a leitores de um jornal, entre várias outras possibilidades? Essa mudança de concepção traz a tona outro fator: se o texto é visto como um processo de interação entre interlocutores e não um produto final a ser avaliado, é digno de ser refeito a partir do diálogo que o leitor estabelece ao tentar compreendê-lo. Temos, assim, um novo desafio à prática de produção textual no processo de ensino e aprendizagem de língua materna: o texto é um processo, portanto, caso apresente problemas, tanto na abordagem do conteúdo, na estrutura, como nos elementos gramaticais, precisa ser re-escrito. Qual é o papel do leitor, principalmente do professor, diante desse texto? De que maneira o leitor pode dialogar com o autor, apontando aspectos que podem melhorariar a qualidade comunicativa de seu texto? Deve usar grades, cartas finais, assinalar nas bordas, enfim, como proceder? Há uma fórmula ideal para interagir com o texto do aluno? Therezo (2008) defende que o uso de indicadores, cartas finais, ou mesmo grades são maneiras produtivas de mostrar ao autor em que e como seu texto pode ser melhorado tanto em aspectos cognitivos, estruturais, linguísticos, enunciativos como discursivos. Diante dessa situação, perguntamo-nos: Como estimular e orientar a re-escrita do texto do aluno? 2.3 Além de escrever, é preciso re-escrever! A prática de escrita consiste em um processo que depende de várias etapas para que possa ser realizada com sucesso. Concordamos com Antunes (2006, p. 168) quando a autora defende que escrever um texto consiste em “uma atividade que supõe informação, conhecimento do objeto sobre o qual se vai discorrer, além, é claro, de outros conhecimentos de ordem textual-discursiva e lingüística”. Nesse contexto, é de extrema importância que o professor de língua tenha consciência do que consiste o processo de produção de textos, pois essa estratégia vai muito além da simples atividade de fazer um texto a partir de um título, de uma temática, de uma imagem ou mesmo de um fragmento de outro texto. Existe todo um trabalho de estudo, de contextualização do assunto a ser abordado, antes de chegar à etapa de produção propriamente dita. Além do conhecimento cognitivo, deve haver um estudo do gênero a ser produzido: quem escreve, para quem, com que finalidade, onde circula, se a linguagem é mais ou menos formal, qual o vocabulário mais adequado, entre outras questões dessa natureza. É preciso que haja conhecimento da estrutura da frase, do parágrafo, do texto; e domínio de usos de elementos de coesão e linguísticos. Enfim, o produtor de um texto precisa ter conhecimento de vários elementos e mecanismos implicados no processo de construir textos, tendo em mente que se trata de uma prática social e não de um ato mecânico, destituído de sentido. Todavia, essa sequência didática ainda não está completa, pois, houve a preparação e a produção. É chegado, então, outro momento da interação social (da leitura e da compreensão) por parte de um leitor, que pode ou não ser o professor. Qual seria o papel do leitor no processo de ensino e aprendizagem da escrita, na escola? Compete ao leitor interagir, dialogar com o texto produzido. Mas como fazer isso? No caso do professor, ele deve ler o texto não somente considerando questões gramaticais e de coesão, que estão na superfície do texto, mas conferir também o sentido produzido e todos os efeitos enunciativos e discursivos envolvidos nesse processo. Defendemos a visão de que o mestre deve apontar e orientar em que aspectos o autor pode melhorar seu texto, de modo particular, e sua capacidade de se expressar por escrito, de modo geral. Para tanto, existem diferentes maneiras de dialogar com o texto: fazendo indicações na borda, no corpo do texto ou no final, usando grades previamente estabelecidas. Entendemos que seja de suma importância que o leitor escreva uma carta, orientado em que aspectos o texto pode ser aperfeiçoado. Para Gonçalves (2009, p. 19), a reescrita vai, obviamente, exigir do professor uma concepção dialógica da linguagem, que é o seu verdadeiro papel; isto é, a reescrita vai possibilitar ao aluno ajustar o que tem a dizer à forma de dizer de um determinado gênero. Isso contribui para a constituição do aluno enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz, bem como vai ajudar o aluno a escolher adequadamente as estratégias para realizar sua tarefa e, obviamente, a ter para quem dizer o que tem a dizer. Seguindo a sequência didática do processo de escrita, o aluno-autor volta a ler seu texto, observando as indicações feitas e o re-escreve, reorganizando seu dizer. Como vemos, essa etapa é bem mais complexa do que o simples ato de passar a limpo. O número de vezes que o texto será re-escrito dependerá das condições didático-metodológicas de cada processo de escrita. O importante é que o espaço de re-escrita seja instituído e efetuado no ensino de língua, na escola. Vale lembrar que a re-escrita é parte integrante do processo de escrita, na qual o aluno é estimulado a aperfeiçoar seu texto, sob orientação de um leitor mais experiente que, boa parte das vezes, será o professor Ao analisar livros didáticos voltados tanto para o ensino fundamental quanto do médio, foi possível perceber que praticamente todos eles apresentam propostas de produção textual, com maior ou menor enfoque ao gênero, entretanto, ainda é bastante raro encontrar espaço e orientação à re-escrita dos textos produzidos. Essa realidade precisa ser, aos poucos, mudada. Mas, para que isso aconteça, o professor precisar estar ciente de que a re-escrita consiste em parte importante do processo de produção textual e deve ser integrada ao exercício da produção textual. 2.4. Propostas de produção textual no livro didático de português Ao analisar diferentes livros didáticos direcionados ao ensino de língua materna, tanto no fundamental quanto no médio, englobando exemplares editados nas últimas três décadas, observamos que mais de 90% deles apresentam propostas de produção textual, sendo que os exemplares produzidos a partir de 2005 abordam o texto sob uma perspectiva de gênero. Conforme Macedo Reinaldo (2005, p. 92), “embora os autores dos livros didáticos de português estejam sensibilizados para a inclusão de textos representativos dos diversos gêneros como objeto de leitura, nem sempre apresentam orientação metodológica suficiente para a produção desses textos”. A análise dessas obras revela que até há a inclusão do gênero, mas sua abordagem é superficial, restando ao professor o papel de abordar de modo sistemático e complexo o caráter funcional e social do gênero. Surge, então, a questão: nossos professores em serviço estão teórica e didaticamente preparados para exercer essa função? Fundamentamos nosso dizer com base no trabalho realizado por Costa Val. (2003) ao analisar 14 coleções de livros didáticos de português voltados ao ensino fundamental (11 delas recomendadas e 3 não pelo MEC), publicadas no Guia de Livros Didáticos do PNLD-2002, com foco na seção relativa às atividades de produção de textos escritos. A partir de seu estudo, a autora constatou que mais de 90% das obras apresentam “propostas numerosas e variadas de produção de diversos gêneros e tipos de textos escritos, com sugestões quanto à escolha temática” (p. 131). Acrescenta que há tendência geral a exercícios claros e com correção na formulação das propostas, com a preocupação em oportunizar a construção da forma composicional do texto que será produzido. Mas existem também aspectos negativos como o descuido na adequação do dialeto e do registro no que se refere à situação de produção e circulação do texto, pois, não fazem nenhuma referência à variedade linguística a ser adotada e não proporcionam momento para autoavaliação e refeitura do texto. Os resultados das análises nos mostram que embora os autores dos livros didáticos assumam a postura de definir o ato de escrita como um processo social de interação verbal, na prática, os exercícios propostos e as metodologias adotadas ainda enfatizam a produção textual como um produto. Tendo essa noção como base, não há enfoque no leitor-ouvinte, na compreensão, o que acaba não dando espaço à re-escritura do seu dizer. Acreditamos ser esse o motivo de encontrar oportunidades tão raras de propostas de releitura, de reorganização, enfim, de re-escritura do seu próprio texto. 4 Finalizando... A partir de uma breve reflexão sobre o percurso histórico do processo de ensino e aprendizagem da produção textual, no meio escolar, pudemos perceber que seu resultado ainda é insatisfatório, pois funciona como ato mecânico e, algumas vezes, como ajuste de conta no que se refere à nota. Além disso, há mais atenção aos aspectos ortográficos, de coesão e linguísticos, em detrimento do teor temático abordado no texto. Dito de outro modo, embora a produção de texto tenha recebido mais espaço e atenção nas aulas de língua materna, existe maior preocupação com a forma do que com o conteúdo que está sendo dito. Interessa antes a maneira como foi dito do que o que foi dito. Por outro lado, nosso estudo mostrou também que há bons indícios de novos e diferentes olhares a essa prática escolar. As mudanças em sala de aula ainda são tênues, mas precursoras. Na medida em que o texto, numa perspectiva mais ampla, o gênero textual, é reconhecido e trabalho em sala de aula, atuando em suas diversas situações sociais, tanto na prática de leitura como de produção textual, a língua passa a ser vista como um processo de interação verbal e a manifestação falada ou escrita deixa de ser um ato mecânico, destituído de sentido. Em síntese, se professor e aluno perceberem e trabalharem a língua como processo de interação, em que alguém diz algo a outro alguém, com determinada intenção, o ato de se expressar, tanto falando como escrevendo, será vivenciado como algo significativo e útil não só nas aulas de língua, mas na vida em sociedade. Com isso, o ensino e aprendizagem de língua materna deixa de ser algo que trará benefícios no futuro e se torna uma prática importante para que o aluno interaja, desde já, no meio em que vive, em uma sociedade letrada. Sendo trabalhada como um processo social em que há, no mínimo, dois interlocutores, a produção textual levará em conta um autor e um possível leitor-ouvinte, papel que, no processo escolar, boa parte das vezes será desempenhado pelo professor. Essa postura implica a realização de um diálogo, ou seja, ao ler o texto do aluno, o professor apontará aspectos positivos, bem como aproveitará a oportunidade para indicar elementos em que o texto pode e deve ser aperfeiçoado, considerando questões linguísticas, textuais, enunciativas, pragmáticas e discursivas. Com essa abordagem, aos poucos, surgirá espaço e interesse em reorganizar, re-escrever os textos produzidos.