A principal explicação para o péssimo futebol no amistoso de sexta-feira, contra a África do Sul, é o time mal estruturado. Mano Menezes tentou um 4-3-3 torto, com Rômulo de primeiro volante, Ramires de ponta-esquerda e Oscar na meia-direita. Os três do meio se espalhavam, o ataque não funcionava.
Tardiamente, só depois da entrada de Paulinho aos 18 minutos do segundo tempo, a seleção passou a jogar num 4-2-3-1 capaz de agrupar o meio-de-campo e formar o que se pudesse chamar de time. Fez 1 x 0.
O jogo de sexta tem culpa de Mano Menezes.
Nos dois anos sem resultados expressivos sob o comando de Mano, a partida contra a África do Sul entra no grupo dos pecados mortais. Ganhar de 1 x 0 sofrendo e com o adversário reclamando de gol impedido é como empatar com a Venezuela por 0 x 0 na estreia da Copa América. Ou como ser eliminado do torneio errando três pênaltis contra o Paraguai.
Taticamente, a seleção foi ainda pior no Morumbi.
Uma parte da crise da seleção brasileira é alheia à manutenção ou troca do comando técnico: excesso de juventude. Procure na história das grandes seleções, brasileira ou não, uma equipe cujos principais jogadores tenham todos 20 anos, como Lucas, Oscar e Neymar.
Não há.
Dos grandes craques da história da seleção, Zico, Falcão, Sócrates, Rivelino, Romário... Nenhum desses era titular aos 20 anos. Pelé era, mas tinha Didi a seu lado. Ronaldo também, mas em companhia mais madura – Romário, Dunga, Bebeto! Messi jogava pela Argentina, ao lado de Riquelme.
O time precisa envelhecer. Se não é possível ter Kaká e Ronaldinho, é preciso encontrar setores onde joguem os mais maduros – hoje, só Thiago Silva.
Casamata errada, camisa rasgada, esparadrapo como faixa de capitão, 20 minutos de atraso e futebolzinho de segunda.
O reencontro da amarelinha desbotada com os paulistas foi dos mais gratificantes: que coisinha feia!
Sob calorosos incentivos da torcida (surpreendentes 51.538 espectadores no Morumbi), traduzidos em vaias a Neymar & Cia., olé e gritos de ‘burro, burro, burro’ ao Mano dos manos, a equipe derrotou os sul-africanos.
Um adversário com predicados técnicos inferiores a muitas equipes que disputam a segundona do Campeonato Brasileiro.
As boas-vindas à bolinha quadrada do canarinho sem asas começaram a ecoar aos seis minutos de jogo, com gritos de ‘Luís Fabiano’, após um erro de Leandro Damião.
Coisa de são-paulino, mas que merece reflexão se ‘Fabigol’ trocar o chinelinho por uma sequência de jogos.
O sensacional duelo contra a África do Sul serviu também para rasgados elogios ao moleque Neymar, o melhor jogador do país: ‘Pipoqueiro, pipoqueiro... ’
Um pipoqueiro que certamente 11 de cada 10 torcedores de coirmãos do Peixe gostariam de contar. E que tem o direito de passar por uma fase ruim, tal a exploração de suas chuteiras – dentro e fora de campo.
Os gritos de Luís Fabiano voltaram quando o incrível Hulk substituiu Damião. Mas pouco depois eles desapareceram: o atacante de R$ 160 milhões garantiu a maiúscula vitória por 1 a 0. Adeus, Mano?
Julio Cesar; Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos (Gilberto); Gilberto Silva, Felipe Melo, Daniel Alves e Kaká; Robinho e Luís Fabiano (Nilmar). Foi com esses 13 jogadores que o Brasil perdeu para a Holanda 798 dias antes da vitória sobre a África do Sul, no Morumbi repleto de torcedores que vão a um estádio achando que se o time não jogar bem caberá queixa no Procon.
Claro que o time dirigido por Mano Menezes não atingiu até agora o que dele se espera. É evidente que o trabalho do técnico pode e deve ser questionado. Mas é preciso certa miopia futebolística para não entender que a reconstrução de um time é lenta, demorada. Ainda mais com tantos jovens jogadores e um protagonista de apenas 20 anos.
Daniel Alves foi o único que participou da derrota para a Holanda e esteve em campo diante dos sul-africanos. A mudança é profunda e os talentos não transbordam. Há bons jogadores, alguns serão ótimos um dia, mas não há mais brasileiros craques de bola. Neymar é exceção, tem no currículo uma Libertadores que conquistou com destaque, mas lhe falta cancha, tempo, horas de voo.
Assim, embora seja decepcionante, é natural que essa seleção não se encontre diante dos fracos Bafana Bafana. Acontece. Nos tempos de Dunga os não menos frágeis bolivianos seguraram um empate sem gols no Rio de Janeiro. E o time era mais cascudo, com remanescentes da Copa anterior e gente rodada como Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan, Ronaldinho, Robinho e Luís Fabiano.
Naquela noite de 2008 no Engenhão a torcida vaiou. Na tarde de 7 de setembro no Morumbi ela começou a apupar com dois minutos de bola rolando. Isso mesmo, dois minutos! E assim será na Copa do Mundo. Não creio que o comportamento desse torcedor que se dispõe a pagar R$ 80 por um ingresso mude até 2014. A seleção brasileira pode jogar em casa como se estivesse fora.
Na cabeça desses "torcedores" que, sinceramente, não merecem ser assim chamados, pagar para ver um jogo de futebol é como comprar um celular da moda. Se não funcionar como esperado, eles abrem queixa. Não funciona assim, senhoras e senhores. O ingresso não lhes garante nada e é possível que saia da cancha decepcionado ou surpreendentemente feliz com o que viu.
Ir a um estádio é o mesmo que sair de casa ao encontro do inesperado, da vitória ou da derrota, da boa ou da pífia atuação, da euforia extrema ou da decepção profunda. E é isso que faz do futebol tão sensacional. Esse era apenas um amistoso. Na Copa os garotos vão precisar da força emanada pelas arquibancadas, algo que neste feriado parecia tão distante quanto a Terra e Plutão.
Quem seria esse cara que vaiou a dois minutos de jogo? E o que antes dos cinco berrava por Luís Fabiano, que teve sua chance em 2010, mas perdeu para a Holanda? São os mesmos que cantam "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Com esse tipo de plateia, 2014 tem tudo para ser um desastre, não importa quem seja o técnico cebeefiano.
Fazia tempo que eu não via a seleção ao vivo. Mais de dois anos, desde a derrota para a Holanda na Copa. As idas e vindas da vida me deixaram mais enclausurado, menos na rua. Ossos do ofício.
Resolvi ir ao Morumbi. Adorei rever amigos. Adorei sentir de novo um ambiente de estádio cheio. E foi só. Não adorei nada mais.
A seleção tem que jogar partidas duras e moles. Duras para testar o time, situações, jogadores. As moles, para golear e ganhar confiança. Não dá para empatar jogo mole. Ou ganhar por pouco e no sufoco.
Saio do Morumbi com o cântico "adeus, Mano" na cabeça.
Torcedor de futebol virou um bicho muito chato. Critica seus times, jogadores, é impaciente e impiedoso. Não seria diferente com a seleção. Ainda mais em São Paulo, onde cornetar virou tradição.
No primeiro tempo, teve ar de pirraça. Com 15 minutos de jogo, estavam gritando "Luis Fabiano". No intervalo e segundo tempo, as vaias eram mais densas, mais pesadas.
Mano Menezes tinha dois amistosos para golear e se firmar. Sai chamuscado do primeiro, ainda tem o segundo. E aí dois jogos com a Argentina para sobreviver.
Por definição, sou contra ficar trocando de técnico. Não acho que resolva e não acho que Felipão ou Muricy, os dois candidatos, levariam jogadores diferentes e nem dariam um padrão de jogo muito melhor ou mais vistoso.
Mas é fato: Mano periga. E as pessoas não parecem estar ao lado dele.
O amistoso serviu, essencialmente, para Hulk e Diego Alves. Hulk pôs fogo no jogo, fez gol, mostrou que traz coisas diferentes e tem que ser titular.
Diego Alves é um grande goleiro, quem o acompanhou nas últimas ligas espanholas sabe disso. Na ausência de um dono da posição, foi bem, ganhou pontos, confiança e espaço.
Daniel Alves, Ramires e Neymar fizeram um jogo "ok", burocrático. Esses estarão no time. Aqui, os gritos de "Neymar pipoqueiro" me parecem bobagem, e das grandes. Provocação de torcedores rivais, nada mais.
Dedé e David Luiz passaram insegurança. Nenhum dos dois é um claro parceiro para Thiago Silva.
Rômulo não fez um mau jogo, mas é obvio que o número 5 é um dos problemas de Mano. Ainda não encontrou o xerife ideal, talvez seja melhor pensar em resgatar algum veterano que dê conta do recado.
Damião e Oscar, as grandes vítimas desse jogo. Oscar, vaiado antes do inicio da partida, foi discreto. Não vai perder lugar no time, mas não encantou.
Ja Damião foi vaiado desde o início. E sentiu. Tentou uma carretilha medonha só para responder as vaias. Sentiu demais a pressão, nunca se soltou, nunca acertou.
O "9" é o outro problema de Mano. Insistir com Damião? Tentar Pato e torcer pra não se machucar mais? Recorrer a um mais experiente e cascudo, tipo Fred?
O tempo dirá. Se é que o tempo vai jogar junto com Mano Menezes.
Textos de Mauro César Pereira, Paulo vinìcios Coelho, Júlio Gomes e José Roberto Malia