A interferência do treinamento sobre as características das fibras musculares
Na constituição dos músculos, cada músculo como um todo é recoberto pelo Epimísio que é uma camada envolvente de tecido conjuntivo. O músculo é subdividido em pequenos feixes de fibras ou células musculares envolvidos pelo Perimísio. O Endomísio o qual é o invólucro de cada fibra (célula muscular) constitui a terceira subdivisão de todo o músculo.
Apenas uma única fibra muscular pode ser contida por até 80% de miofibrilas. Cada fibra muscular pode conter dezenas e até centenas de milhares de miofibrilas. As miofibrilas são constituídas por miofilamentos de dois tipos: miofilamentos grossos ou Miosina, a miosinaé por sua vez, subdividida em meromiosina leve e meromiosina pesada, os miofilamentos finos são denominados Actina.
As fibras musculares podem ser classificadas por meio de sua propriedade contrátil e por sua coloração: fibras lentas, fibras vermelhas ou do tipo I (veja quadro 01 e 02). As fibras de contração rápida, branca ou do tipo II (veja quadro 01 e 02).
Quadro 01
Nomenclatura variada dos tipos de fibras
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Característica
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Tipo I
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Resistência
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Vermelhas
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Tônicas
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Lentas
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Slow twitch fibers (ST)
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Tipo II
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Força e velocidade
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Brancas
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Fásicas
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Rápidas
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Tipo IIA – rápida oxidativa
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Tipo IIB – rápida glicolítica
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Fast twitch fibers (FT)
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Quadro 02
Tipos de fibras musculares
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Tipo I (Resistência)
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Subtipo
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I C
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Tipo II (Força e velocidade)
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Subtipos
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II A
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II B
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II C
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II AB
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II AC
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Chiesa;1999,Fleck & Kraemer;1999, Bacurau;2000.
Os subtipos de fibras musculares IIA, podem ser classificados como fibras intermediárias; Ästrand; 1980, pág 43 Howley & Powers; 2000, pág 137, porque possuem características mistas entre as fibras do Tipo I (resistência) e do Tipo II (força), veja quadro 03.
Quadro 03
Características das fibras musculares
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Característica
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Tipo I
(contração lenta)
(resistência)
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Tipo IIA
(contração rápida)
(glicolítica oxidativa)
(intermediária)
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Tipo IIB
(contração rápida)
(glicolítica)
(força)
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Velocidade de contração
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Lenta
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Rápida
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Rápida
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Capacidade anaeróbia
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Baixa
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Moderada
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Alta
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Capacidade oxidativa
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Alta
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Moderada
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Baixa
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Estoque de triacilgliceróis
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Alto
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Moderado
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Baixo
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Estoque de glicogênio
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Moderado
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Moderado
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Alto
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Volume de mitocôndrias
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Grande
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Moderado
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Pequeno
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Enzimas oxidativas
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Alta
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Moderada
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Baixa
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Enzimas glicolíticas
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Baixa
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Moderada
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Alta
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Capilaridade
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Elevada
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Moderada
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Reduzida
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Adaptado Ästrand; 1980, Saltin e cols in Bacurau;2000, Howley & Powers; 2000. Platonov;2003.
O treinamento de força provoca transformação dentro de um determinado subtipo de fibra muscular sendo uma adaptação comum em função do tipo e também da duração do treinamento. Provavelmente a transformação das fibras musculares dá-se apenas de forma gradual dentre os subtipos de fibras e não diretamente de um tipo para outro. “Uma fibra do Tipo IIb não pode ser diretamente convertida em Tipo I , devendo antes ser convertida numa fibra Tipo IIa”. Howley & Powers; 2000.
Segundo Pette; 1980, Rayment; 1993, Staron; 1989 in Howley & Powers; 1997; 2000, o treinamento de força e o treinamento de endurance acarretam a conversão das fibras rápidas em fibras mais lentas, ou seja quando o músculo é submetido a treinamento há uma transformação das fibras do Tipo IIb para o Tipo IIa, esta transformação é considerada uma transformação do tipo fibras rápidas para fibras lentas, veja quadro 04.
Quadro 04
Treinamento com exercícios de força
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?
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I
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IC
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IIC
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IIAC
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IIA
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IIAb
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IIAB
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IIaB
|
IIB
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É necessário mais estresse oxidativo no treinamento de resistência aeróbia.
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Fleck & Kraemer;1999.
Ponto final para o treinamento de força pesado.
O levantamento de uma carga externa ativa um processo de transformação das fibras Tipo IIB em Tipo IIA.
Segundo Kraemer;1999, após o treinamento destinado ao desenvolvimento da força, verifica-se uma redução drástica das fibras do Tipo IIB. A transformação da fibras do Tipo IIB para o Tipo IIA ou seja, dentro de um determinado subtipo de fibra muscular é uma adaptação comum no treinamento de força. (G.R. Adams et al; 1993, Staron et al; 1991,1994, Kraemer et al; 1995.
O treinamento de força provoca modificações hipertróficas positivas nas fibras do Tipo I e do Tipo II, sendo que as fibras de características de contração rápida são mais beneficiadas. Fleck & Kraemer; 1988, Tesch; 1988.
As fibras brancas hipertrofiam-se sob a aplicação de treinos de velocidade e de força na presença de estímulos com grande sobrecarga, e reduzido número de repetições. A hipertrofia das fibras lentas, dá-se sob estímulo caracterizado com baixa sobrecarga e um alto volume de repetições, veja quadro 05.
Quadro 05
Caracteres | Grau de hipertrofia |
1 a 5 repetições : maior síntese de proteína contrátil (fibra IIB), | níve3 (bom) |
6 a 12 repetições : maior síntese de proteína contrátil + hipertrofia sarcoplasmática (fibras IIA e IIB) | nível 4 (ótimo). |
12 a 20 repetições : maior hipertrofia sarcoplasmática + síntese de proteína contrátil (fibra IIC). | nível 2 (regular). |
>20 repetições : hipertrofia sarcoplasmática (fibra Tipo I). | Nível 1 (baixo) |
Hatfield,1985 in Rodrigues; 1990, 1992.
A proporção das fibras musculares pode variar sensivelmente de um grupamento muscular para outro, de individuo para individuo assim como, nas categorias diferenciadas de atletas de elite, em função com a predominância da força, da velocidade ou da resistência no esporte praticado, veja quadro 06 e 07.
Quadro 06
Ordem
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Músculos
| Fibras lentas
(ordem decrescente)
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1
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Sóleo
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2
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Adutor polegar
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3
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Tibial anterior
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4
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Bíceps femoral
| |||
5
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Fíbular longo
| |||
6
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Deltóide
| |||
7
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Gastrocnêmio
| |||
8
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Bíceps braquial
| |||
9
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Quadríceps
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10
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Esternocleidomastóideo
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11
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Tríceps braquial
| |||
12
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Orbicular dos olhos.
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Fibras rápidas
(ordem decrescente).
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Johnson e cols 1973 in Brunnstrom; 1987.
“O vasto lateral, reto femoral, gastrocnêmio, deltóide e bíceps braquial, contém aproximadamente 50% de fibras de contração rápida. O sóleo possui 75% a 90% de fibras de contração lenta do que os outros músculos da perna. O tríceps braquial possui mais de 60% a 80% de fibras de contração rápida do que os outros músculos do braço”.
Saltin e cols; 1977 in Hay & Reid; 1982.
Percentual das fibras musculares de contração rápida e lenta em atletas.
Músculo quadríceps.
Quadro 07
Categoria atlética
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% de Fibras rápidas
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% de Fibras vermelhas
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Corredores de maratona
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18
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82
|
Nadadores
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26
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74
|
Atleta masculino nível médio
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55
|
45
|
Halterofilistas
|
55
|
45
|
Corredores de velocidade e Saltadores
|
63
|
37
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Guyton;1985.
“Pesquisas sugerem que não há diferença nos tipos de fibras musculares entre homens e mulheres”. Saltin e cols; 1977 in Hay & Reid; 1982.
Entre as idades de 12 a 14 anos encontramos 14% de fibras com características intermediárias em rapazes e 10% em moças. Sabemos que as fibras intermediárias podem ser transformadas em fibras lentas ou rápidas, de acordo com o tipo de treinamento. Possivelmente nesta faixa etária encontra-se o momento para a definição das características atléticas futuras de velocidade, de força ou de endurance.
Visando recrutar as fibras intermediárias para o grupo das fibras de contração rápida durante a passagem dos 12 a 14 anos de idade, o treinamento deve ser dirigido de forma a beneficiar a força e a velocidade durante este período. A transformação destas fibras musculares de características intermediárias num momento posterior, deixará de ser possível; Bauersfeld/Voss; 1992 in Weineck;1999, constituindo-se desta forma na passagem dos 12 aos 14 anos de idade, situa-se o momento exato e mais propício ao treinamento de base da força de velocidade.
Os treinamentos de endurance e de outras qualidades físicas não devem ser negligenciados, assim como, a aprendizagem e o aperfeiçoamento das características técnicas esportivas. Apenas neste período dá-se ênfase aos treinos específicos de velocidade e força geral de forma mais elaborada e sob controle pleno.
O alongamento das estruturas musculares principalmente dos posteriores do tronco, o fortalecimento dos músculos do abdômen (reto, oblíquos),coluna vertebral (eretores) necessitam de treinos rotineiros.
O treinamento árduo e prematuro de velocidade na infância pode ser prejudicial posteriormente para o desenvolvimento da velocidade e da força rápida; Weineck; 1999.
Aplicar treinamentos visando apenas garantir modificações primárias sobre os tipos de fibras musculares é um meio e não um fim, relacionado ao sucesso desportivo. O sucesso desportivo constitui-se da reunião e do equilíbrio de fatores psicológicos, neurológicos, bioquímicos, cardíacos, circulatórios, biomecânicos, socioeconômicos, ambientais dentre outros.
Fonte: educaçaofisica.org
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