sábado, 28 de abril de 2012

GINÁSTICA ARTÍSTICA E O ALTO RENDIMENTO. MEU TRABALHO JUNTAMENTE COM O DO ROBERTO STUDART FOI ESCOLHIDO PRA SER APRESENTADO NO SIMPÓSIO.






GINÁSTICA ARTÍSTICA E O ALTO RENDIMENTO





Curso: Educação Física
Disciplina: Teoria e Prática da Ginástica Artística
Professores: Róbson e Bárbara
Alunos: Roberto Studart e Mariane Girão



Fortaleza 2012





1.   INTRODUÇÃO
A Ginástica Artística (GA), assim como a Ginástica Rítmica (GR) são esportes olímpicos de alto rendimento.
O esporte de alto rendimento vem apresentando uma evolução muito acentuada nos últimos anos, principalmente devido ao embasamento cientifico oriundo de áreas como Fisiologia do Exercício, Biomecânica e Cineantropometria aplicada aos esportes. Os avanços na fisiologia desportiva promoveram um interesse no desenvolvimento de perfis fisiológicos, capazes de descrever as qualidades e características associadas aos atletas de elite nas várias modalidades esportivas. Tais perfis apresentam uma considerável aplicação no desenvolvimento do esporte e no fornecimento de dados sobre atletas de elite, com os quais se torna possível à comparação com dados de atletas aspirantes (NAKAMURA et al., 2007).
No que diz respeito à oportunidade de se compreender melhor o esporte, as características morfofuncionais) do atleta de elite oferece informações importantes, tanto àquelas áreas de treinamento que devem ser enfatizadas, como naquelas que necessitam de pouca atenção. Uma avaliação traçando as características morfofuncional dos ginastas dentro nos clubes onde realizam seu treino ou eventos esportivos que reúne todos os atletas de elite do Brasil resulta em informações que são imprescindíveis para a planificação de um programa de treinamento eficaz.

2.   HISTÓRIA DA GINÁSTICA
Milenar, a ginástica fez parte da vida do homem pré-histórico enquanto atividade física, pois detinha um papel importante para sua sobrevivência, expressada, principalmente, na necessidade vital de atacar e defender-se. O exercício físico utilitário e sistematizado de forma rudimentar era transmitido através das gerações e fazia parte dos jogos, rituais e festividades. Mais tarde, na antiguidade, principalmente no Oriente, os exercícios físicos apareceram nas várias formas de luta, na natação, no remo, no hipismo e na arte de atirar com o arco, além de figurar nos jogos, nos rituais religiosos e na preparação militar de maneira geral.
Como prática esportiva, a ginástica teve sua oficialização e regulamentação tardiamente, se comparada a seu surgimento enquanto mera condição de prática metódica de exercícios físicos, já encontrados por volta de 2 600 a.C., nas civilizações da China, da Índia e do Egito, onde valorizava-se o equilíbrio, a força, a flexibilidade e a resistência, utilizando, inclusive de materiais de apoio, como pesos e lanças. Este conceito começou a desenvolver-se pela prática grega, que o levou através do Helenismo e do Império Romano. Foram os gregos os responsáveis pelo surgimento das primeiras escolas destinadas à preparação de atletas para exibições ginásticas em público e nos ginásios. Seu estilo nascia da busca pelo corpo são, mente sã e do ideal da beleza humana, expressado em obras de arte deste período: socialmente, os homens reuniam-se para apreciar as artes desenvolvidas na época, entre pintura, escultura e música, discutiam a filosofia, também em desenvolvimento e, para divertirem-se e cultuarem seus corpos, praticavam ginástica, que, definida por Platão e Aristóteles, era uma prática que salientava a beleza através dos movimentos corporais. Foi ainda na Grécia Antiga, que a ginástica adquiriu seu status de educação física, pois esta desempenhava papel fundamental no sistema educativo grego para o equilíbrio harmônico entre as aptidões físicas e intelectuais. Já em Esparta, na mesma época, este conceito servia unicamente ao propósito militar, treinando as crianças desde os sete anos de idade para o combate. Tal pensamento fez sua participação nos Jogos diminuir com o passar dos anos. Em Atenas, todavia, só a partir dos quatorze anos, os rapazes praticavam a educação física: exercitavam-se nas palestras, que eram locais fechados e, sob os conselhos dos sábios, praticavam os exercícios. Aprovados, seguiam, ao completarem dezoito anos, para os ginásios, nos quais, tutelados pelos ginastes, formavam-se inseridos num ambiente em que se exibiam obras de arte e onde os filósofos reuniam-se para discutir sobre a união corpo e mente. Apresentado à Roma, este conceito esportivo atingiu fins estritamente militares, de prática nas palestras, para os jovens acima dos quatorze anos, e adquiriu um novo nome, o de ginástica higiênica, aplicada nas termas, já que os romanos viam o culto físico como algo satânico e, em nome de Deus e da moral, decretaram o fim dos Jogos Olímpicos antigos, nos quais estava inserida a ginástica enquanto festividade e preparação. No entanto, parte do povo manteve o culto ao corpo e a educação física como práticas secretas.
Na Idade Média, a ginástica perdeu sua importância devido a rejeição do culto ao físico e à beleza do homem, ressurgindo somente na fase renascentista, influenciada pela redescoberta dos valores gregos, aparecendo assim nos teatros de rua, que motivavam os espectadores a praticarem em grupo as atividades físicas. Estruturalmente, ressurgiu o termo ginástica higiênica, voltada para a prática do exercício apenas direcionada para a manutenção da saúde do indivíduo, descrita na obra Arte Ginástica, de Jeronimus Mercurialis. Por volta do século XVIII, recuperou-se e desenvolveu-se conceituada em duas linhas, como expressão corporal e como exercício militar, após a publicação de Émile, livro do pedagogo Jean-Jacques Rousseau, que defensor da aprendizagem indutiva, definiu:
“O exercício tanto torna o homem saudável como sábio e justo (...) quanto maior sua atividade física, maior sua aprendizagem” (Rousseau, Jean-Jacques)


Imagem datada do ano de 1851 mostra a prática gímnica masculina, ao ar livre e em grupo, nos primórdios da transformação à modalidade esportiva e posteriormente, competitiva.
Desse momento em diante, inúmeros educadores voltaram-se para a prática esportiva, na busca de uma melhor elaboração de métodos especializados e escolas de educação física.  Entre os destacados estiveram o espanhol Francisco Amoros, que desenvolveu um estudo voltado para a resistência física, o alemão Friedrich Ludwig Jahn, que desenvolveu aparelhos e deu início a sistematização da ginástica artística, o sueco Pehr Henrik Ling, que iniciou a separação da ginástica em categorias, como a de fins militares e a para a formação, e o dinamarquês Niels Bukh, que desenvolveu vestimentas, novas formas de toque na prática coletiva e envolveu o conceito, assim como Jahn, com a política. Enquanto Jahn utilizou dos conceitos da ginástica para restaurar o espírito alemão humilhado por Napoleão e desenvolver a força física e moral dos homens através da prática desta atividade para assim reunir seguidores militares contra as tropas do governantes francês, Bukh cooperou, com seus estudos, para o regime nazista, enquanto melhorias na preparação dos combatentes.
Com a evolução da educação física, a ginástica especializou-se, de acordo com as finalidades com que é praticada ou então em correspondência com os movimentos que a compõem. Enquanto modalidade esportiva, não parou de se desenvolver. Dentre as provas esportivas dos Jogos Olímpicos, é uma das mais antigas. Por isso e por seu desenvolvimento, sua história é constantemente confundida com a de sua primeira ramificação, a artística, o que não fere suas individualidades. Fora das escolas e dos ginásios, a ginástica conquistou espaço por desempenhar função na sociedade industrial, apresentado-se capaz de corrigir os vícios da postura acarretados pelos esforços e repetições físicas no ambiente de trabalho. Tal capacidade mostrava sua vinculação com a medicina e isso lhe rendeu status entre os adeptos e estudiosos dessas questões, adquirindo então uma nova ramificação em sua história evolutiva. Durante o século XIX, a ginástica passou a refletir apenas o significado de prática esportiva moderna, deixando para trás a preparação militar e a preparação para e junto a outras atividades, como o atletismo praticado nos Jogos Olímpicos antigos. Nesta época, surgiram e aprimoraram-se as escolas inglesa, alemã, sueca e francesa. Exceto a inglesa, destinada unicamente a elaboração de jogos e a atividade atlética, as demais determinaram e expandiram os métodos ginásticos, passados através dos movimentos europeus que resultaram na criação das Lingiadas, festival internacional de ginástica criado em comemoração aos cem anos da morte de Ling. Estes movimentos ainda influenciaram-se e universalizaram os conceitos ginásticos, posteriormente trabalhados dentro de cada modalidade.
Nesse mesmo século, surgiu a entidade que passou a regrar as práticas do desporto: a Federação Européia de Ginástica (em francês: Fédération Européenne de Gymnastique), fundada por Nicolas J. Cupérus e que contou com a participação de três países - Bélgica, França e Holanda. Em 1921, a FEG tornou-se a atualmente conhecida FIG (Federação Internacional de Ginástica), quando os primeiros dezesseis países não europeus foram admitidos na entidade, sendo os Estados Unidos, o primeiro. Nos dias atuais, é considerada a organização internacional mais antiga responsável pela estruturação da ginástica. Mesmo sem carácter competitivo, a modalidade tem figurado em cerimônias de abertura de jogos, caracterizando-se como um dos pontos mais belos destes eventos, nos quais a criatividade, a plasticidade e a expressão corporal tornam-se presentes na participação sincronizada de um grande número de ginastas. Na era moderna, a ginástica, inicialmente tida como prática física, passou a ser dividida e estruturada em cinco campos de atuação, que desenvolvem-se unidas pelo conceito e separadas nos fins: condicionamento físico, de competições, fisioterapêuticas, de demonstração e de conscientização corporal.

3.           Ginástica Artística
“Ginástica é um esporte tanto emocionante quanto belo, que não requer somente coragem de seus adeptos como também graça domínio do corpo.” Frase retirada do livro “O Prazer da Ginástica”.
A Ginástica Artística (Olímpica) é um conjunto de exercícios corporais sistematizados, aplicados com fins competitivos, em que se conjugam a força, a agilidade e a elasticidade. O termo ginástica origina-se do grego gymnádzein, que significa “treinar” e, em sentido literal, “exercitar-se nu”, a forma como os gregos praticavam os exercícios.
3.1       História 
Foi na Grécia que a ginástica alcançou um lugar de destaque na sociedade, tornando-se uma atividade de fundamental importância no desenvolvimento cultural do individuo.
Exercícios físicos eram motivo de competição entre os gregos, prática que caiu em desuso com o domínio dos romanos, mais afeitos aos espetáculos mortais entre homens e feras.
Durante a sangrenta Idade Média, houve um desinteresse total pela ginástica como competição e o seu aproveitamento esportivo ressurgiu na Europa apenas no inicio do século XVIII. Foram então criadas a escola Alemã (caracterizada por movimentos lentos e rítmicos) e sueca (à base de aparelhos). Elas influenciaram o desenvolvimento do esporte, em especial o sistema de exercícios físicos idealizado por Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852), o Turnkunst, matriz essencial da ginástica olímpica hoje praticada.

3.2 Modalidades
A ginástica artística (olímpica) baseia-se na evolução técnica de diversos exercícios físicos. Para os homens, as provas são: barra fixa, barras paralelas, cavalo com alças, salto sobre a mesa, argolas e solo. As mulheres disputam exercícios de solo(com fundo musical) salto sobre a mesa (1,25 m de altura), paralelas assimétricas(de 2,50 m e 1,70m de altura), e trave de equilíbrio(de 10 cm de largura e 5 metros de comprimento).
3.3 Julgamento e Pontuação
Os exercícios de cada ginasta são avaliados por um Painel de Árbitros (Painel A e B). A principal função do Painel A é avaliar o valor máximo do conteúdo do exercício, que é a Nota A. Ela compreende:
  •  Valor de Dificuldade: são considerados os 9 elementos de maior dificuldade mais a saída (nas paralelas e solo). Na trave são considerados os 8 elementos de maior dificuldade mais o giro e a saída. Esses elementos estão codificados de A (0,10 – elementos mais simples) a G (0.70 – elementos mais complexos).
     
  •  Requisitos de Grupos de Elementos: São 05 (cinco) valendo 0.50p. cada um
  •  Valor de Ligação: É obtido através de combinações únicas e de alto grau de dificuldade de elementos nas paralelas, trave e solo.
    A principal função do Painel B é avaliar as falhas de execução e apresentação artística, que ocorrem durante o exercício.
     A Nota B compreende as deduções por falhas de execução e apresentação artística. Para calcular a Nota B, soma-se o total de deduções de execução e apresentação artística, e subtrai-se de 10.0p.
    Cálculo da Nota Final:
    Nota A + Nota B = Nota Final
    Todas as informações referentes à avaliação dos exercícios estão contidas no Código de pontuação da FIG, que rege a arbitragem internacional, e que tem a validade de um ciclo olímpico.
3.4 Competições
A ginástica faz parte das olimpíadas desde as competições de Berlim (1936) quando foram criadas as categorias masculina e feminina, individual e por equipe. A cada dois anos realizam-se campeonatos mundiais. Na Ginástica Olímpica Feminina, podem participar desses campeonatos e das Olimpíadas ginastas de 16 anos de idade ou mais.
 Na história dos jogos olímpicos, destaca-se o desempenho das ginastas femininas, como a soviética Olga Korbut, medalha de ouro em Munique (1972), e a romena Nadia Comaneci, em Montreal (1976). Aos 14 anos, Comaneci obteve quatro vezes a nota dez do júri, alcançando ouro nos exercícios individuais, nas barras assimétricas e na trave de equilíbrio.
A primeira participação do Brasil no esporte em uma Olimpíada foi em Moscou-1980, com Claudia Magalhães e João Luiz Ribeiro. Em Los Angeles-1984, Gerson Gnoatto e Tatiana Figueiredo, que terminou na 27º colocação, representaram nossa ginástica. Luisa Parente, que ganhou os Jogos Pan Americanos de 1991, também participou das Olimpíadas de 1988 e 1992; No masculino, Guilherme Saggese Pinto terminou em 89º lugar em Seul, enquanto Marco Antônio Monteiro ficou com 84º posição nos jogos de Barcelona. A ginasta Soraya Carvalho conseguiu se classificar para as Olimpíadas de Atlanta-1996, mas não pode competir devido a uma lesão no tornozelo.
Nos Jogos de Sydney, em 2000, o Brasil conseguiu levar, pela primeira vez, duas ginastas às Olimpíadas (Daniele Hypólito e Camila Comin). Daniele Hypólito entrou para a história da ginástica brasileira ao obter no Campeonato Mundial de 2001, em Ghent, a 1ª medalha de prata por aparelhos, no solo. Em 2003, a ginasta  Daiane dos Santos entra para a história do esporte brasileiro ao se tornar a primeira mulher a conseguir uma medalha de ouro individual.
Ela obteve esse feito no Campeonato Mundial em  Anaheim, nos EUA, ao sagrar-se campeã na prova de solo, e pela primeira vez o Brasil consegue classificar uma equipe completa no feminino para os Jogos Olímpicos. Diego Hypólito entra para a história da ginástica ao tornar-se campeão mundial de solo, em Melbourne, na Austrália em 2005, e vice-campeão no ano seguinte em Aahrus, na Dinamarca.
E a ginasta Jade Barbosa conseguiu mais uma façanha para a ginástica brasileira, elevando o nome do Brasil ao cenário internacional, conquistando a medalha de bronze no individual geral, no Campeonato Mundial, em Stuttgart, 2007, uma das provas mais difíceis, pois a ginasta tem que ser excelente nos quatro aparelhos.
Neste mesmo evento, Diego Hypólito sagrou-se bi-campeão na prova de solo masculino, e a equipe feminina, além de conquistar o respeito das grandes potências da ginástica internacional, conseguiu o feito histórico de se classificar  em 5º lugar na final por equipes, o melhor resultado já obtido em toda história da ginástica brasileira.


4.   Alto Rendimento

4.1 Alto rendimento no esporte
O esporte de alto rendimento é aquele no qual o atleta se prepara fisicamente para praticar determinada modalidade esportiva. Seja qual for a atividade pretendida, os desafios e dificuldades a serem trilhadas serão bastante similares e devem ser supervisionadas por especialistas da área da educação física, e este é o diferencial do atleta de alto rendimento para o esportista de fim de semana.
Segundo o preparador físico Marcelo Meliande a pessoa que pensa ser atleta de alto desempenho deve ter consciênciade duas coisas básicas: disciplina e saber das dificuldades físicas. “O esportista deve ser disciplinado e ter perseverança nos objetivos que são traçados pelo seu orientador”. “A pessoa deve ter claro de que poderá haver grandes dificuldades e que essas deverão ser superadas pela pessoa”, comenta ele.
Mesmo com treinamentos físicos diários o rendimento desses atletas são mais lentos. Segundo Meliande, se o atleta tiver um treino bem planejado os resultados aparecerão após três a cinco anos do inicio das atividades.
Submetidos a altas cargas de exercícios e repetitivos muitos dos atletas acabam sofrendo alguma lesão durante sua trajetória no esporte. Segundo o fisioterapeuta Rodrigo Daronch, as lesões mais comuns nesses atletas estão nas articulações, joelho, ombro, ligamentar, e sua recuperação normalmente é mais rápida que em atletas comuns devido ao organismo estar mais acostumado com exercícios.


4.2       Ginástica Artística e o Alto Rendimento

Como diriam alguns antropólogos, todo texto (lógica interna) possui um contexto (lógica externa) que lhe atribui sentido e significação.
Neste sentido a Ginástica Artística Masculina (GAM), enquanto prática esportiva de alto rendimento, se desenvolve em dois contextos distintos:  a competição formal e a preparação para a competição (treinamento). Em função de suas características e necessidades particulares esta modalidade encontrou nos Ginásios o espaço idôneo para desenvolver o processo de treinamento que prepara os ginastas para a competição. De este modo, o Ginásio constitui o “contexto de treinamento” representando assim um lugar essencial para a evolução da GAM na sua vertente de alto nível que alberga grande parte dos saberes necessários para poder compreender este esporte desde uma perspectiva contextualizada, segundo descrevem Escalera in Medina e Sánchez. Diferentemente do contexto competitivo, o de treinamento consiste uma realidade quase desconhecida, já que, além dos ginastas e técnicos, poucas são as pessoas que têm a oportunidade de conhecer seu funcionamento desde dentro.
Considerando o Ginásio como o contexto onde o ginasta se prepara para a competição, é imprescindível conhecer seu funcionamento em profundidade. Para conhecer esta realidade empreendemos uma descrição etnográfica das características mais representativas do funcionamento e da cultura de treinamento (ou de preparação) dos ginastas, no caso particular do Ginásio de GAM do Centro de Alto Rendimento (CAR) de Sant Cugat del Vallès, na província de Barcelona (Catalunha, Espanha). Uma sala onde treinam diariamente vários ginastas da seleção espanhola de alto rendimento, e que por tanto, possui alta representatividade tanto no âmbito nacional como no internacional.


4.3       Benefícios e Malefícios do esporte de alto rendimento

Os malefícios do esporte de alto rendimento são bem visíveis, pois não se há um limite para exaustão do corpo. Ele fica mais suscetível a lesões, dores e stresses musculares. Os benefícios são superações como recordes olímpicos,é claro que o corpo fica bem mais disposto apesar do sobrecarga de trabalho,o lado financeiro pode ser influenciado também, enfim se colocar na balança, vai ficar bem equilibrado o lado bom e ruim do esporte de alto rendimento.

5. Esporte Performance
Também conhecido como esporte de alto rendimento, está preocupado em conseguir novos êxitos, vitorias e é regido por regras universalmente preestabelecidas que estão vinculadas as federações, confederações nacionais ou internacionais.
Darido e Rangel (2008, p.181) fazem referencia a essa dimensão do esporte expondo que o mesmo “apresenta uma tendência a ser praticado pelos talentos esportivos, tendência que marca o seu caráter antidemocrático”. Nessa tendência o esporte segue uma linha que quem o pratica são considerados os melhores, pois um dos objetivos é a vitória deixando de lado um caráter de democracia, onde quem quisesse praticar poderia praticar.
É nesta tendência que quando trabalhada dentro das escolas a literatura crítica fica aguçada, mostrando que essa dimensão pode trazer malefícios para os alunos, como por exemplo, a especialização precoce.
Voser, Neto e Vargas (2007), definem iniciação desportiva precoce como atividade esportiva desenvolvida antes da puberdade, caracterizada por uma alta dedicação aos treinamentos (mais de 10 horas semanais) e principalmente por ter uma finalidade eminentemente competitiva.
Kunz (1994) refere-se ao termo “treinamento especializado precoce”, na qual este ocorre quando crianças são introduzidas antes da fase pubertária a um processo de treinamento planejado e organizado a longo prazo, que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais com o objetivo do gradual aumento do rendimento, além da participação periódica em competições.
Este tipo de treinamento acontece possivelmente, por dois motivos, a falta de conhecimento do professor e/ou as ações (pressões, idéias, valores) oriundas do sistema, na qual ao observar um grande potencial na criança, os professores preocupam-se com a elevação do seu rendimento e incentivam a obtenção de títulos, com o objetivo de adquirir resultados em curto prazo na modalidade. Mas não podemos sacrificar todos os profissionais que trabalham com crianças e adolescentes, pode acontecer de muitos serem competentes tecnicamente, mas ao sofrerem pressões externas, acabam ocorrendo equívocos.
Ao inserir a criança prematuramente no esporte Kunz (1994), afirma que pode ocasionar prejuízos em seu futuro, na qual esses prejuízos serão enumerados a seguir. 1. Formação escolar deficiente, devido à grande exigência em acompanhar com êxito a carreira esportiva; 2. A unilateralizaçâo de um desenvolvimento que deveria ser plural; 3. Reduzidas participações em atividades, brincadeiras e jogos do mundo infantil, indispensáveis para o desenvolvimento da personalidade na infância. 4. Naturalmente, também, tanto a saúde física quanto a psíquicas são atingidas num treinamento especializado precoce.
Considerando estes aspectos são notáveis os prejuízos que a prática intensiva de um esporte competitivo iniciado precocemente na infância pode ocasionar. No entanto, em meio a esses aspectos negativos Tubino (2001, p.41) apud Darido e Rangel (2008 p. 181) citam alguns pontos positivos que justificam uma relevância social do esporte performance, citando que essa dimensão pode proporcionar uma atividade cultural que proporciona um intercambio internacional; a geração de turismo; o envolvimento de recursos humanos qualificados , o que provoca a existência de várias profissões especializadas no esporte, entre outros.
Portanto, fica evidente que o esporte performance e retratado como uma prática que possui seus objetivos centrado no ganhar, na vitória, ou seja, de conseguir novos êxitos, possuindo um caráter antidemocrático, na qual a uma tendência a ser praticado pelos talentos esportivos.

6. O CRESCIMENTO DA GINÁSTICA ARTÍSTICA

O crescimento do esporte é um fenômeno mun­dial  que vem repercutindo em todas as esferas da sociedade. Devido à diversidade de opções de práticas espor­tivas, pais e seus filhos podem ficar indecisos sobre o que praticar, quando iniciar e quando competir. Há afirmações de que quanto mais cedo iniciar no esporte, melhor. Mas, melhor para quem ou em que sentido? Crianças e jovens são atraídos para o esporte e, provavelmente, há aqueles que sonham em chegar ao pódio ou participar dos Jogos Olímpicos, ainda que não conheçam o caminho que deverão percorrer até merecer uma medalha no peito.
O processo de preparação esportiva visa consolidar a funcionalidade do atleta em longo prazo e atingir a excelência na modalidade escolhida em idades supe­riores. Há sugestões de modelos de formação espor­tiva na literatura como, por exemplo, Balyi (2003), Bompa (2000), Weineck (1999), Chaurra, Zuluaga e Peña (1998) e Zakharov (1992). A especialização é parte natural desse processo quando os esforços e tempo são canalizados para uma única modalidade, após um período de prática variada. Contrariamente, a especialização precoce refere-se à especialização antes do período considerado ideal, quando fases do processo de formação são antecipadas ou anuladas (Bompa, 2000; Marques, 1991; Weineck, 1999).
A idade de início do treinamento especializado varia de acordo com a cultura e a modalidade espor­tiva (Bompa, 2000; Zakharov, 1992), o gênero, a vida útil de prestação esportiva e o ápice esportivo (Carazzato, 1995). Na Ginástica Artística (GA), em particular, muita atenção é necessária, pois, acre­dita-se que a especialização esportiva seja realmente precoce. O período ótimo de desenvolvimento de capacidades coordenativas e da flexibilidade (Arkaev & Suchilin, 2004) e as vantagens biomecânicas de proporções corporais menores (Damsgaard, 2001).

Na ginástica artística é comum observarmos ginastas em tenra idade treinando, competindo e obtendo resultados expressivos no âmbito internacional. Assim, frequentemente, a modalidade recebe críticas severas sobre as suas práticas e a necessidade dos ginastas iniciarem o treinamento tão jovens. Mas, no Brasil, ainda há poucos dados sobre a realidade da iniciação e da especialização esportiva na ginástica artística. O objetivo do presente estudo foi investigar, entre os técnicos da modalidade, sobre a idade que eles consideram a ideal para o início da prática e a especialização e os respectivos argumentos. Foram entrevistados 46 técnicos do Brasil que trabalham em todas as categorias de formação que visam ao alto nível. Utilizamos a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2001) para o tratamento de dados. Os dados revelam que a prática e a especialização iniciam em tenra idade em ambos os gêneros. Os técnicos do setor masculino e do feminino citam que a especialização precoce ocorre devido à própria natureza da modalidade, à idade de participação em eventos oficiais e ao tempo de preparação necessário para que os ginastas apresentem condições para competir. No setor masculino, em particular, a necessidade dos ginastas de ingressar no mercado de trabalho pressiona os técnicos a obterem resultados antes que eles comecem a abandonar o esporte.
Unitermos: Ginástica artística; Treinamento; Especialização; Especialização precoce.
O crescimento do esporte é um fenômeno mun­dial (McCullick, Belcher & Schempp, 2005) que vem repercutindo em todas as esferas da sociedade. Devido à diversidade de opções de práticas espor­tivas, pais e seus filhos podem ficar indecisos sobre o que praticar, quando iniciar e quando competir. Há afirmações de que quanto mais cedo iniciar no esporte, melhor. Mas, melhor para quem ou em que sentido? Crianças e jovens são atraídos para o esporte e, provavelmente, há aqueles que sonham em chegar ao pódio ou participar dos Jogos Olímpicos, ainda que não conheçam o caminho que deverão percorrer até merecer uma medalha no peito.
O processo de preparação esportiva visa consolidar a funcionalidade do atleta em longo prazo e atingir a excelência na modalidade escolhida em idades supe­riores. Há sugestões de modelos de formação espor­tiva na literatura como, por exemplo, Balyi (2003), Bompa (2000), Weineck (1999), Chaurra, Zuluaga e Peña (1998) e Zakharov (1992). A especialização é parte natural desse processo quando os esforços e tempo são canalizados para uma única modalidade, após um período de prática variada. Contrariamente, a especialização precoce refere-se à especialização antes do período considerado ideal, quando fases do processo de formação são antecipadas ou anuladas (Bompa, 2000; Marques, 1991; Weineck, 1999).
A idade de início do treinamento especializado varia de acordo com a cultura e a modalidade espor­tiva (Bompa, 2000; Zakharov, 1992), o gênero, a vida útil de prestação esportiva e o ápice esportivo (Carazzato, 1995). Na Ginástica Artística (GA), em particular, muita atenção é necessária, pois, acre­dita-se que a especialização esportiva seja realmente precoce. O período ótimo de desenvolvimento de capacidades coordenativas e da flexibilidade (Arkaev & Suchilin, 2004) e as vantagens biomecânicas de proporções corporais menores (Damsgaard, 2001)
NUNOMURA, M.; CARRARA, P.D.S. & TSUKAMOTO, M.H.C.
306 • Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.24, n.3, p.305-14, jul./set. 2010

 
são os argumentos mais utilizados na GA competi­tiva, mas, ainda assim, levantam críticas e debates, seja na Pedagogia do Esporte ou nas demais áreas.
Bompa (2000), Gonçalves(1999) e Coelho (1988) associam a especialização precoce ao fato de muitas pes­soas acreditarem que, quanto mais cedo a criança iniciar na modalidade esportiva, mais chances de sucesso ela terá. E, apesar da literatura atual tentar esclarecer essa visão equivocada de especialização e esta associação não encontrar apoio na ciência, a especialização precoce é explorada amplamente no esporte contemporâneo. A especialização precoce é desaconselhada, pois acarreta uma série de consequências negativas aos praticantes como redução do repertório motor; aumento da incidência de lesões (Bompa, 2000; Galdino & Ma­chado, 2008; Marques, 1991); prejuízos gerais ao desenvolvimento da criança (Seabra & Catela, 1998); manifestação de efeitos psicológicos negativos como o “burnout” (Watts, 2002); desmotivação (Coelho, 1988) e prejuízos à formação escolar (Weineck, 1999).
O treino sistemático inicia-se antes da puberdade nas modalidades artísticas (Balyi, 2003; Damsga­ard, 2001). Mas, não podemos inferir que seja con­senso entre os técnicos de GA que a especialização na modalidade deva ocorrer bem cedo. Entretanto, não raras vezes, técnicos argumentam a “necessidade” e a “obrigatoriedade” de se iniciar os treinamentos sistemáticos e intensivos ainda em tenra idade.
Não há problemas com o treinamento sistematizado quando os ginastas atravessaram todo o processo de preparação e adaptação, até demonstrarem condições de suportar as cargas de treinamento da modalidade. Mas, quando crianças e jovens competem segundo as regras oficiais, surgem questionamentos como: quanto tempo eles treinaram até atingir esse padrão técnico e com que idade iniciaram os treinos? Ainda que as crianças demonstrem talento para a GA, o treinamen­to intensivo e uni direcionado pode comprometer a saúde e o envolvimento em longo prazo. E, talvez, o seu potencial para o alto rendimento na modalidade jamais seja desenvolvido. O esporte competitivo tem sua própria característica e a crítica não se reporta à exigência do alto rendimento para adultos, mas, quando estas mesmas exigências são feitas às crianças.
A GA pode contribuir para a formação esportiva geral, pois estimula as capacidades físicas e motoras, que também são importantes para a prática de ou­tras modalidades esportivas. Mas, será que na GA é preciso iniciar cedo os treinamentos especializados para evoluir ao alto nível? Seria uma exigência real da modalidade? Os objetivos do presente estudo foram: 1) analisar a opinião dos técnicos da GA competi­tiva sobre a idade e o conteúdo ideal para o início da prática e da especialização na modalidade; 2) discutir as respectivas argumentações que sustentam seu ponto de vista sobre a especialização precoce.
Métodos

 
Amostra
Realizamos uma investigação em campo e entrevistamos 46 técnicos (34 do setor feminino e 12 do masculino) que orientam ginastas das categorias de base da GA, os quais competem em torneios oficiais das respectivas Federações e/ou da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). O recorte foi estabelecido sobre o Estado de São Paulo e cidades do Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, devido à representatividade numérica e qualitativa destas localidades no cenário nacional da GA. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EEFE/USP.
Procedimentos
Apoiados em um roteiro pré-estabelecido, os técnicos foram entrevistados, individualmente, e seus depoimentos foram integralmente registrados em miniDV. Solicitou-se que eles relatassem sobre a idade ideal para o início da prática e a especialização na GA e, também, o seu ponto de vista sobre a especialização precoce na GA, justificando as respostas.
Para o tratamento dos dados, optamos pela téc­nica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2001), que envolve o tratamento bruto dos dados (leitura), a categorização (organização dos dados) e a codificação (definição das unidades de significado e unidades de contexto), para posterior discussão à luz da teoria que circunstancia o fenômeno.
A análise ocorreu, discriminadamente, para o grupo de técnicos do setor feminino e do masculino. Este procedimento foi adotado porque identifica­mos, entre os sexos, diferenças significativas que demarcam o processo de formação esportiva, como a idade de início e as particularidades do processo de maturação.Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.24, n.3, p.305-14, jul./set. 2010 • 307 Ginástica artística e especialização precoce
Resultados
Os dados foram organizados em duas categorias para ambos os sexos: 1) Idade do praticante e 2) Conteúdo das atividades, para cada um dos questionamentos. Os quadros a seguir resumem as opiniões apresentadas pelos técnicos.
QUADRO 1 -
Resultados apresentados pelos técnicos do setor feminino.
Idade
Conteúdo das atividades
Ideal para iniciar
- Alguns técnicos dizem que, entre 5-7 anos de ida­de, seria a idade ideal para iniciar.
- Outros mencionam que, entre 3-4 anos de idade, a criança já deveria frequentar o ambiente da GA.
- Os técnicos lembram a importância das atividades lúdicas nas etapas inicias.
- No entanto, ao citarem exemplos de atividades, referem-se a atividades típicas do treinamento espe­cializado.
Ideal para especializar
- De 6-7 a, no máximo, 9-10 anos de idade.
- Os técnicos alegam que os regulamentos das fede­rações e confederações estimulam a especialização.
- A pressão das instituições para a obtenção de resul­tados também justifica a necessidade de especializa­ção, na opinião dos técnicos.
- Alguns técnicos acreditam que a prontidão do atle­ta pode permitir que a detecção de uma boa resposta ao treinamento, ainda que este seja iniciado antes da idade considerada ideal.
Ponto de vista sobre a
especialização precoce
- Os técnicos concordam que a especialização aos 4-5 anos de idade seja precoce.
- Ainda assim, muitos se manifestam favoráveis à es­pecialização entre 4-7 anos de idade.
- A formação do atleta deve ocorrer em longo prazo. Portanto, alguns técnicos mencionam que não há ra­zão para apressar este processo.
- Os regulamentos vigentes na modalidade são apon­tados mais uma vez como uma justificativa para a propensão à especialização precoce na modalidade.
- Os técnicos apontam o esgotamento e a incidência de lesões como consequências deste processo.


Na ginástica artística é comum observarmos ginastas em tenra idade treinando, competindo e obtendo resultados expressivos no âmbito internacional. Assim, frequentemente, a modalidade recebe críticas severas sobre as suas práticas e a necessidade dos ginastas iniciarem o treinamento tão jovens. Mas, no Brasil, ainda há poucos dados sobre a realidade da iniciação e da especialização esportiva na ginástica artística. O objetivo do presente estudo foi investigar, entre os técnicos da modalidade, sobre a idade que eles consideram a ideal para o início da prática e a especialização e os respectivos argumentos. Foram entrevistados 46 técnicos do Brasil que trabalham em todas as categorias de formação que visam ao alto nível. Utilizamos a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2001) para o tratamento de dados. Os dados revelam que a prática e a especialização iniciam em tenra idade em ambos os gêneros. Os técnicos do setor masculino e do feminino citam que a especialização precoce ocorre devido à própria natureza da modalidade, à idade de participação em eventos oficiais e ao tempo de preparação necessário para que os ginastas apresentem condições para competir. No setor masculino, em particular, a necessidade dos ginastas de ingressar no mercado de trabalho pressiona os técnicos a obterem resultados antes que eles comecem a abandonar o esporte.
Unitermos: Ginástica artística; Treinamento; Especialização; Especialização precoce.
O crescimento do esporte é um fenômeno mun­dial (McCullick, Belcher & Schempp, 2005) que vem repercutindo em todas as esferas da sociedade. Devido à diversidade de opções de práticas espor­tivas, pais e seus filhos podem ficar indecisos sobre o que praticar, quando iniciar e quando competir. Há afirmações de que quanto mais cedo iniciar no esporte, melhor. Mas, melhor para quem ou em que sentido? Crianças e jovens são atraídos para o esporte e, provavelmente, há aqueles que sonham em chegar ao pódio ou participar dos Jogos Olímpicos, ainda que não conheçam o caminho que deverão percorrer até merecer uma medalha no peito.
O processo de preparação esportiva visa consolidar a funcionalidade do atleta em longo prazo e atingir a excelência na modalidade escolhida em idades supe­riores. Há sugestões de modelos de formação espor­tiva na literatura como, por exemplo, Balyi (2003), Bompa (2000), Weineck (1999), Chaurra, Zuluaga e Peña (1998) e Zakharov (1992). A especialização é parte natural desse processo quando os esforços e tempo são canalizados para uma única modalidade, após um período de prática variada. Contrariamente, a especialização precoce refere-se à especialização antes do período considerado ideal, quando fases do processo de formação são antecipadas ou anuladas (Bompa, 2000; Marques, 1991; Weineck, 1999).
A idade de início do treinamento especializado varia de acordo com a cultura e a modalidade espor­tiva (Bompa, 2000; Zakharov, 1992), o gênero, a vida útil de prestação esportiva e o ápice esportivo (Carazzato, 1995). Na Ginástica Artística (GA), em particular, muita atenção é necessária, pois, acre­dita-se que a especialização esportiva seja realmente precoce. O período ótimo de desenvolvimento de capacidades coordenativas e da flexibilidade (Arkaev & Suchilin, 2004) e as vantagens biomecânicas de proporções corporais menores (Damsgaard, 2001)
NUNOMURA, M.; CARRARA, P.D.S. & TSUKAMOTO, M.H.C.
306 • Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.24, n.3, p.305-14, jul./set. 2010

 
são os argumentos mais utilizados na GA competi­tiva, mas, ainda assim, levantam críticas e debates, seja na Pedagogia do Esporte ou nas demais áreas.
Bompa (2000), Gonçalves(1999) e Coelho (1988) associam a especialização precoce ao fato de muitas pes­soas acreditarem que, quanto mais cedo a criança iniciar na modalidade esportiva, mais chances de sucesso ela terá. E, apesar da literatura atual tentar esclarecer essa visão equivocada de especialização e esta associação não encontrar apoio na ciência, a especialização precoce é explorada amplamente no esporte contemporâneo. A especialização precoce é desaconselhada, pois acarreta uma série de consequências negativas aos praticantes como redução do repertório motor; aumento da incidência de lesões (Bompa, 2000; Galdino & Ma­chado, 2008; Marques, 1991); prejuízos gerais ao desenvolvimento da criança (Seabra & Catela, 1998); manifestação de efeitos psicológicos negativos como o “burnout” (Watts, 2002); desmotivação (Coelho, 1988) e prejuízos à formação escolar (Weineck, 1999).
O treino sistemático inicia-se antes da puberdade nas modalidades artísticas (Balyi, 2003; Damsga­ard, 2001). Mas, não podemos inferir que seja con­senso entre os técnicos de GA que a especialização na modalidade deva ocorrer bem cedo. Entretanto, não raras vezes, técnicos argumentam a “necessidade” e a “obrigatoriedade” de se iniciar os treinamentos sistemáticos e intensivos ainda em tenra idade.
Não há problemas com o treinamento sistematizado quando os ginastas atravessaram todo o processo de preparação e adaptação, até demonstrarem condições de suportar as cargas de treinamento da modalidade. Mas, quando crianças e jovens competem segundo as regras oficiais, surgem questionamentos como: quanto tempo eles treinaram até atingir esse padrão técnico e com que idade iniciaram os treinos? Ainda que as crianças demonstrem talento para a GA, o treinamen­to intensivo e uni direcionado pode comprometer a saúde e o envolvimento em longo prazo. E, talvez, o seu potencial para o alto rendimento na modalidade jamais seja desenvolvido. O esporte competitivo tem sua própria característica e a crítica não se reporta à exigência do alto rendimento para adultos, mas, quando estas mesmas exigências são feitas às crianças.
A GA pode contribuir para a formação esportiva geral, pois estimula as capacidades físicas e motoras, que também são importantes para a prática de ou­tras modalidades esportivas. Mas, será que na GA é preciso iniciar cedo os treinamentos especializados para evoluir ao alto nível? Seria uma exigência real da modalidade? Os objetivos do presente estudo foram: 1) analisar a opinião dos técnicos da GA competi­tiva sobre a idade e o conteúdo ideal para o início da prática e da especialização na modalidade; 2) discutir as respectivas argumentações que sustentam seu ponto de vista sobre a especialização precoce.
Métodos

 
Amostra
Realizamos uma investigação em campo e entrevistamos 46 técnicos (34 do setor feminino e 12 do masculino) que orientam ginastas das categorias de base da GA, os quais competem em torneios oficiais das respectivas Federações e/ou da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). O recorte foi estabelecido sobre o Estado de São Paulo e cidades do Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, devido à representatividade numérica e qualitativa destas localidades no cenário nacional da GA. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EEFE/USP.
Procedimentos
Apoiados em um roteiro pré-estabelecido, os técnicos foram entrevistados, individualmente, e seus depoimentos foram integralmente registrados em miniDV. Solicitou-se que eles relatassem sobre a idade ideal para o início da prática e a especialização na GA e, também, o seu ponto de vista sobre a especialização precoce na GA, justificando as respostas.
Para o tratamento dos dados, optamos pela téc­nica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2001), que envolve o tratamento bruto dos dados (leitura), a categorização (organização dos dados) e a codificação (definição das unidades de significado e unidades de contexto), para posterior discussão à luz da teoria que circunstancia o fenômeno.
A análise ocorreu, discriminadamente, para o grupo de técnicos do setor feminino e do masculino. Este procedimento foi adotado porque identifica­mos, entre os sexos, diferenças significativas que demarcam o processo de formação esportiva, como a idade de início e as particularidades do processo de maturação.Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.24, n.3, p.305-14, jul./set. 2010 • 307 Ginástica artística e especialização precoce
Resultados
Os dados foram organizados em duas categorias para ambos os sexos: 1) Idade do praticante e 2) Conteúdo das atividades, para cada um dos questionamentos. Os quadros a seguir resumem as opiniões apresentadas pelos técnicos.
QUADRO 1 -
Resultados apresentados pelos técnicos do setor feminino.
Idade
Conteúdo das atividades
Ideal para iniciar
- Alguns técnicos dizem que, entre 5-7 anos de ida­de, seria a idade ideal para iniciar.
- Outros mencionam que, entre 3-4 anos de idade, a criança já deveria frequentar o ambiente da GA.
- Os técnicos lembram a importância das atividades lúdicas nas etapas inicias.
- No entanto, ao citarem exemplos de atividades, referem-se a atividades típicas do treinamento espe­cializado.
Ideal para especializar
- De 6-7 a, no máximo, 9-10 anos de idade.
- Os técnicos alegam que os regulamentos das fede­rações e confederações estimulam a especialização.
- A pressão das instituições para a obtenção de resul­tados também justifica a necessidade de especializa­ção, na opinião dos técnicos.
- Alguns técnicos acreditam que a prontidão do atle­ta pode permitir que a detecção de uma boa resposta ao treinamento, ainda que este seja iniciado antes da idade considerada ideal.
Ponto de vista sobre a
especialização precoce
- Os técnicos concordam que a especialização aos 4-5 anos de idade seja precoce.
- Ainda assim, muitos se manifestam favoráveis à es­pecialização entre 4-7 anos de idade.
- A formação do atleta deve ocorrer em longo prazo. Portanto, alguns técnicos mencionam que não há ra­zão para apressar este processo.
- Os regulamentos vigentes na modalidade são apon­tados mais uma vez como uma justificativa para a propensão à especialização precoce na modalidade.
- Os técnicos apontam o esgotamento e a incidência de lesões como consequências deste processo.


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